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Proezas de memória que qualquer um pode fazer

  • 0:01 - 0:05
    Gostaria de vos convidar
    a fechar os olhos.
  • 0:06 - 0:08
    Imaginem-se parados
  • 0:08 - 0:12
    do lado de fora
    da porta de entrada da vossa casa.
  • 0:12 - 0:15
    Reparem na cor da porta,
  • 0:15 - 0:17
    no material de que é feita.
  • 0:20 - 0:26
    Agora visualizem um grupo
    de nudistas obesos de bicicleta.
  • 0:27 - 0:30
    Estão a competir
    numa corrida de ciclistas nus
  • 0:30 - 0:33
    e dirigem-se para a porta
    da vossa entrada.
  • 0:33 - 0:35
    Eu preciso que vocês realmente vejam isto.
  • 0:35 - 0:38
    Estão a pedalar com força, suados,
  • 0:38 - 0:41
    abanam por todo o lado.
  • 0:41 - 0:45
    E estampam-se mesmo em frente
    da porta de entrada da vossa casa.
  • 0:46 - 0:49
    Há bicicletas a voar por todo o lado,
    rodas a passar por vocês,
  • 0:49 - 0:52
    raios de bicicleta que acabam
    em lugares inconvenientes.
  • 0:53 - 0:56
    Atravessem a soleira da porta
  • 0:56 - 0:59
    para o vosso "hall" de entrada, corredor,
    o que quer que esteja do outro lado
  • 0:59 - 1:02
    e apreciem a qualidade da luz.
  • 1:02 - 1:08
    A luz está a incidir
    no Monstro das Bolachas.
  • 1:09 - 1:11
    O Monstro das Bolachas
    está a acenar para vocês
  • 1:11 - 1:14
    empoleirado num cavalo castanho claro.
  • 1:14 - 1:16
    É um cavalo falante.
  • 1:16 - 1:20
    Conseguem sentir aquele pelo azul
    a fazer cócegas no vosso nariz.
  • 1:20 - 1:23
    Conseguem sentir o cheiro
    da bolacha de aveia e passas
  • 1:23 - 1:25
    que está a enfiar pela garganta abaixo.
  • 1:25 - 1:28
    Passem por ele.
    Passem por ele para a sala de estar.
  • 1:28 - 1:32
    Na sala de estar,
    dando largas à vossa imaginação,
  • 1:32 - 1:34
    imaginem a Britney Spears.
  • 1:34 - 1:40
    Está escassamente vestida,
    a dançar sobre a mesa de café,
  • 1:40 - 1:42
    e está a cantar
    "Hit Me Baby One More Time."
  • 1:42 - 1:45
    Depois, sigam-me para a cozinha.
  • 1:45 - 1:50
    Na cozinha, o pavimento está forrado
    de ladrilhos amarelos.
  • 1:50 - 1:53
    A sair do forno, na vossa direção,
  • 1:53 - 1:55
    vêm Dorothy, o Homem de Lata,
  • 1:55 - 1:58
    o Espantalho e o Leão
    do "Feiticeiro de Oz",
  • 1:58 - 2:00
    de mãos dadas,
    a saltitar na vossa direção.
  • 2:00 - 2:03
    Ok. Abram os olhos.
  • 2:05 - 2:08
    Quero falar-vos sobre
    um concurso muito bizarro
  • 2:08 - 2:11
    que tem lugar todas as primaveras
    em Nova Iorque.
  • 2:11 - 2:15
    Chama-se o Campeonato de Memória
    dos Estados Unidos da América.
  • 2:15 - 2:18
    Estive a fazer a cobertura deste concurso,
    há uns anos,
  • 2:18 - 2:20
    na qualidade de jornalista de ciência,
  • 2:20 - 2:25
    julgando que ele seria
    como a Supertaça dos prodígios.
  • 2:25 - 2:29
    Era um grupo de tipos e algumas senhoras,
  • 2:29 - 2:33
    muito variado, tanto na idade
    como nos cuidados de higiene.
  • 2:33 - 2:35
    (Risos)
  • 2:36 - 2:40
    Estavam a memorizar centenas
    de números aleatórios,
  • 2:40 - 2:41
    olhando para eles apenas uma vez.
  • 2:41 - 2:46
    Estavam a memorizar nomes de dúzias
    e dúzias de caras desconhecidas.
  • 2:46 - 2:49
    Estavam a memorizar poemas inteiros,
    apenas nalguns minutos.
  • 2:49 - 2:52
    Estavam a competir para ver
    quem conseguia memorizar
  • 2:52 - 2:55
    mais rapidamente a ordem
    das cartas de um baralho baralhado.
  • 2:55 - 2:57
    Eu pensei: Isto é incrível!
  • 2:57 - 3:00
    Estas pessoas devem ser
    fenómenos da natureza.
  • 3:00 - 3:03
    E comecei a falar com
    alguns dos concorrentes.
  • 3:03 - 3:05
    Este é um tipo chamado Ed Cook
  • 3:05 - 3:07
    que tinha vindo de Inglaterra
  • 3:07 - 3:09
    onde tinha uma das
    memórias mais bem treinadas.
  • 3:09 - 3:10
    E disse-lhe:
  • 3:10 - 3:14
    "Ed, quando é que te apercebeste
    que eras um prodígio?"
  • 3:15 - 3:18
    E ele disse: "Não sou um prodígio.
  • 3:18 - 3:20
    "Tenho apenas uma memória mediana.
  • 3:20 - 3:23
    "Todos os que competem neste concurso
  • 3:23 - 3:25
    "vão dizer-te que têm apenas
    uma memória mediana.
  • 3:25 - 3:27
    "Todos nós nos treinámos
  • 3:27 - 3:32
    "para realizar estas proezas de memória
    absolutamente milagrosos,
  • 3:32 - 3:34
    "usando um conjunto
    de técnicas ancestrais,
  • 3:34 - 3:37
    "técnicas inventadas
    há 2500 anos na Grécia,
  • 3:37 - 3:40
    "as mesmas técnicas
    que Cícero teria utilizado
  • 3:40 - 3:42
    "para memorizar os seus discursos,
  • 3:42 - 3:46
    "que os eruditos medievais teriam utilizado
    para memorizar livros inteiros."
  • 3:46 - 3:50
    E eu: "Uau!. Como é possível
    nunca ter ouvido falar disso?"
  • 3:50 - 3:53
    Estávamos fora da sala de competição
  • 3:53 - 3:57
    e Ed, que é um tipo inglês
    esplêndido, brilhante,
  • 3:57 - 4:00
    mas um pouco excêntrico, diz-me:
  • 4:01 - 4:03
    "Josh, tu és um jornalista americano.
  • 4:04 - 4:06
    "Conheces a Britney Spears?"
  • 4:06 - 4:10
    E eu: "O quê? Não. Porquê?"
  • 4:11 - 4:14
    "Porque eu quero ensinar à Britney Spears
  • 4:14 - 4:16
    "como se memoriza a ordem
    das cartas de um baralho
  • 4:16 - 4:18
    "na televisão nacional dos EUA.
  • 4:18 - 4:21
    "Para provar ao mundo
    que qualquer pessoa pode fazer isso."
  • 4:21 - 4:24
    (Risos)
  • 4:26 - 4:30
    E eu: "Bem, eu não sou a Britney Spears,
  • 4:30 - 4:32
    "mas talvez me possas ensinar.
  • 4:32 - 4:35
    "Ou seja, tens que começar
    por algum lado, não é?"
  • 4:35 - 4:39
    Foi esse o início de uma viagem
    muito estranha para mim.
  • 4:39 - 4:42
    Acabei por investir
    grande parte do ano seguinte
  • 4:42 - 4:44
    não só a treinar a minha memória,
  • 4:44 - 4:46
    mas também a investigá-la,
  • 4:46 - 4:48
    a tentar compreender como é que funciona,
  • 4:48 - 4:50
    porque é que às vezes não funciona
  • 4:50 - 4:52
    e qual poderá ser o seu potencial.
  • 4:52 - 4:55
    Conheci uma multidão de pessoas
    muito interessantes.
  • 4:55 - 4:56
    Este é um tipo chamado E.P.
  • 4:56 - 5:00
    Ele é um amnésico que,
    muito provavelmente,
  • 5:00 - 5:01
    tinha a pior memória do mundo.
  • 5:02 - 5:03
    A memória dele era tão má
  • 5:03 - 5:06
    que nem se lembrava
    que tinha problemas de memória,
  • 5:06 - 5:08
    o que é espantoso.
  • 5:08 - 5:10
    Era esta figura incrivelmente trágica
  • 5:10 - 5:11
    mas era uma janela aberta
  • 5:11 - 5:15
    para quanto as nossas memórias
    nos tornam no que somos.
  • 5:16 - 5:19
    O outro extremo do espetro:
    conheci este tipo.
  • 5:19 - 5:20
    Este é Kim Peek.
  • 5:20 - 5:23
    Serviu de base para
    a personagem de Dustin Hoffman
  • 5:23 - 5:24
    no filme "Encontro de Irmãos" .
  • 5:24 - 5:26
    Passámos uma tarde juntos
  • 5:26 - 5:30
    na Biblioteca Pública de Salt Lake City
    a memorizar listas telefónicas,
  • 5:30 - 5:33
    o que foi estimulante.
  • 5:34 - 5:35
    (Risos)
  • 5:36 - 5:40
    Regressei e li toda uma série
    de tratados sobre memória,
  • 5:40 - 5:43
    tratados escritos há mais de 2000 anos
  • 5:43 - 5:46
    em latim, na Antiguidade
  • 5:46 - 5:48
    e mais tarde na Idade Média.
  • 5:48 - 5:50
    Aprendi uma data de coisas
    muito interessantes.
  • 5:51 - 5:53
    Uma das coisas muito interessantes
    que aprendi
  • 5:53 - 5:56
    é que, antigamente,
  • 5:56 - 6:02
    a ideia de ter uma memória treinada,
    disciplinada, cultivada
  • 6:02 - 6:06
    não era tão estranha
    como nos poderá parecer hoje.
  • 6:07 - 6:12
    Antigamente, as pessoas
    investiam na memória,
  • 6:12 - 6:15
    em trabalhar laboriosamente
    o seu espírito.
  • 6:17 - 6:18
    Nos últimos milénios,
  • 6:18 - 6:21
    inventámos uma série de tecnologias
  • 6:21 - 6:24
    — do alfabeto ao rolo de pergaminho,
  • 6:24 - 6:26
    ao códice, à imprensa, à fotografia,
  • 6:26 - 6:28
    ao computador, ao Smartphone —
  • 6:28 - 6:31
    que nos tornaram cada vez mais fácil
  • 6:31 - 6:34
    externalizar a nossa memória,
  • 6:34 - 6:36
    delegar essencialmente
  • 6:36 - 6:39
    esta capacidade humana fundamental.
  • 6:40 - 6:43
    Estas tecnologias tornaram possível
    o nosso mundo moderno,
  • 6:43 - 6:45
    mas também nos modificaram.
  • 6:45 - 6:47
    Mudaram-nos culturalmente,
  • 6:47 - 6:50
    e eu até diria que
    nos mudaram cognitivamente.
  • 6:50 - 6:53
    Tendo pouca necessidade de recordar,
  • 6:53 - 6:55
    às vezes parece que nos esquecemos disso.
  • 6:56 - 6:58
    Um dos últimos lugares do planeta
  • 6:58 - 7:01
    onde ainda encontramos pessoas
    apaixonadas por esta ideia
  • 7:01 - 7:04
    duma memória treinada,
    disciplinada, cultivada
  • 7:04 - 7:07
    é neste concurso de memória
    completamente extraordinário.
  • 7:07 - 7:09
    Na verdade não é assim tão extraordinário,
  • 7:09 - 7:10
    há concursos por todo o mundo.
  • 7:10 - 7:14
    Eu fiquei fascinado, queria saber
    como é que aqueles tipos conseguiam.
  • 7:15 - 7:19
    Há uns anos, um grupo de investigadores
    na University College de Londres
  • 7:19 - 7:22
    levou para o laboratório
    um grupo de campeões da memória.
  • 7:22 - 7:23
    Queriam saber:
  • 7:23 - 7:25
    Será que estes tipos têm um cérebro
  • 7:25 - 7:29
    estrutural e anatomicamente
    diferente do nosso?
  • 7:29 - 7:31
    A resposta foi: Não.
  • 7:33 - 7:35
    Serão eles mais inteligentes do que nós?
  • 7:35 - 7:37
    Deram-lhes uma série de testes cognitivos,
  • 7:37 - 7:39
    e a resposta foi: Nem por isso.
  • 7:39 - 7:43
    Havia, no entanto, uma diferença
    muito interessante e significativa
  • 7:43 - 7:45
    entre os cérebros dos campeões de memória
  • 7:45 - 7:47
    e os do grupo controlo
    com quem estavam a compará-los.
  • 7:48 - 7:51
    Meteram estes tipos na máquina de RMf,
  • 7:51 - 7:54
    e examinaram os cérebros deles,
    enquanto eles memorizavam números,
  • 7:54 - 7:57
    rostos de pessoas
    e imagens de cristais de neve.
  • 7:57 - 7:59
    Repararam que os campeões de memória
  • 7:59 - 8:04
    estavam a utilizar partes do cérebro
    diferentes dos outros sujeitos.
  • 8:04 - 8:07
    De notar que eles estavam a utilizar,
    ou pareciam estar a utilizar,
  • 8:07 - 8:11
    uma região cerebral relacionada
    com a memória espacial e navegação.
  • 8:12 - 8:17
    Porquê? Haverá algo que nós possamos
    aprender com isso?
  • 8:18 - 8:22
    O desporto de memória competitiva
  • 8:22 - 8:24
    é motivado por uma espécie
    de corrida ao armamento
  • 8:24 - 8:27
    em que todos os anos aparece alguém
  • 8:27 - 8:30
    com uma nova maneira de recordar
    mais coisas mais rapidamente
  • 8:30 - 8:32
    e depois os outros têm
    que tentar acompanhar.
  • 8:32 - 8:34
    Este é o meu amigo Ben Pridmore,
  • 8:34 - 8:36
    tricampeão mundial de memória.
  • 8:36 - 8:38
    Na secretária à sua frente
  • 8:38 - 8:41
    estão 36 baralhos de cartas baralhados
  • 8:41 - 8:44
    que ele tentará memorizar numa hora,
  • 8:44 - 8:48
    usando uma técnica
    que ele inventou e só ele domina.
  • 8:48 - 8:53
    Utilizou uma técnica parecida
    para memorizar a ordem exata
  • 8:53 - 9:00
    de 4140 dígitos binários aleatórios
    em meia-hora.
  • 9:02 - 9:03
    Pois é.
  • 9:04 - 9:09
    Embora existam imensas formas
    de lembrar coisas nestas competições,
  • 9:10 - 9:13
    tudo, todas as técnicas
    que estão a ser usadas,
  • 9:13 - 9:16
    acabam por ir ter ao conceito
  • 9:16 - 9:19
    a que os psicólogos chamam
    "codificação elaborada"
  • 9:19 - 9:22
    que é bem ilustrada
    por um paradoxo fantástico,
  • 9:22 - 9:25
    conhecido por "paradoxo de Baker/baker",
    que é assim:
  • 9:26 - 9:29
    Peço a duas pessoas
    para decorar a mesma palavra.
  • 9:29 - 9:30
    A uma delas digo:
  • 9:30 - 9:34
    "Lembre-se que há um tipo
    chamado Padeiro. É o nome dele".
  • 9:35 - 9:37
    À outra digo:
  • 9:37 - 9:40
    "Lembre-se que há um tipo que é padeiro."
  • 9:42 - 9:46
    Mais tarde vou ter convosco e pergunto:
  • 9:46 - 9:49
    "Lembram-se da palavra
    que vos disse há bocado?
  • 9:49 - 9:51
    "Lembram-se qual era?"
  • 9:51 - 9:54
    A pessoa a quem eu disse
    que o nome dele é Padeiro
  • 9:54 - 9:57
    tem mais dificuldade em lembrar-se
    da mesma palavra
  • 9:57 - 10:00
    do que a pessoa a quem eu disse
    que a profissão dele é padeiro.
  • 10:00 - 10:03
    A mesma palavra, diferentes capacidades
    de recordar. É estranho.
  • 10:03 - 10:05
    Que se passa aqui?
  • 10:06 - 10:10
    O nome Padeiro
    não significa muito para nós.
  • 10:10 - 10:12
    Está totalmente desligado
  • 10:12 - 10:16
    de todas as outras memórias
    que pairam na nossa cabeça.
  • 10:16 - 10:18
    Mas enquanto substantivo comum padeiro,
  • 10:18 - 10:20
    nós conhecemos padeiros.
  • 10:20 - 10:21
    Têm barretes brancos engraçados.
  • 10:21 - 10:23
    Os padeiros têm farinha nas mãos.
  • 10:23 - 10:25
    Cheiram bem quando voltam do trabalho.
  • 10:25 - 10:27
    Até podemos conhecer um padeiro.
  • 10:27 - 10:29
    Quando ouvimos essa palavra,
  • 10:29 - 10:32
    começamos a juntar estas pistas associadas
  • 10:32 - 10:35
    que tornam mais fácil
    repescá-la mais tarde.
  • 10:36 - 10:39
    A verdadeira arte do que se passa
  • 10:39 - 10:41
    nestes concursos de memória,
  • 10:41 - 10:44
    a verdadeira arte de nos lembrarmos melhor
    de coisas do dia-a-dia,
  • 10:44 - 10:48
    consiste em maneiras
    de transformar Padeiros com P maiúsculo
  • 10:48 - 10:50
    em padeiros com b minúsculo,
  • 10:50 - 10:53
    pegar numa informação
    que carece de contexto,
  • 10:53 - 10:56
    de significado, de sentido
  • 10:56 - 10:59
    e transformá-la de modo que
    se encha de significado
  • 10:59 - 11:03
    à luz de todas as outras coisas
    que temos na nossa cabeça.
  • 11:05 - 11:08
    Uma das técnicas mais elaboradas
    para se conseguir isto
  • 11:08 - 11:12
    remonta à Grécia Antiga há 2500 anos.
  • 11:12 - 11:14
    Ficou conhecida como
    o "palácio da memória".
  • 11:14 - 11:17
    Reza a história da sua criação:
  • 11:17 - 11:20
    Havia um poeta chamado Simónides
  • 11:20 - 11:22
    que estava num banquete.
  • 11:22 - 11:24
    Na verdade ele era
    um entretenimento contratado,
  • 11:24 - 11:28
    porque nessa época, quem quisesse
    organizar uma festa estrondosa,
  • 11:28 - 11:31
    não contratava um DJ,
    contratava um poeta.
  • 11:31 - 11:36
    Ele levanta-se, recita o seu poema de cor,
    sai pela porta
  • 11:36 - 11:40
    e, no momento em que o faz,
    o salão do banquete desaba
  • 11:41 - 11:43
    e mata toda a gente lá dentro.
  • 11:44 - 11:46
    Não só mata toda a gente
  • 11:46 - 11:49
    como mutila os corpos
    sem hipótese de reconhecimento.
  • 11:50 - 11:52
    Ninguém consegue dizer
    quem é que estava lá dentro,
  • 11:52 - 11:55
    ninguém consegue dizer
    onde é que estavam sentados.
  • 11:55 - 11:57
    Os cadáveres não podem ser
    devidamente enterrados.
  • 11:57 - 12:00
    É uma tragédia atrás da outra.
  • 12:02 - 12:04
    Simónides, que estava no exterior,
  • 12:04 - 12:06
    o único sobrevivente
    no meio dos destroços,
  • 12:06 - 12:10
    fecha os olhos e tem uma perceção,
  • 12:10 - 12:12
    com a visão do seu espírito,
  • 12:12 - 12:17
    consegue ver onde estava sentado
    cada um dos convidados do banquete.
  • 12:18 - 12:20
    Pega na mão dos familiares
  • 12:20 - 12:23
    e guia cada um para o seu amado
    no meio dos escombros.
  • 12:24 - 12:27
    O que Simónides compreendeu
    nesse momento
  • 12:27 - 12:30
    é uma coisa que eu acho que todos nós
    sabemos intuitivamente:
  • 12:30 - 12:33
    Por muito maus que sejamos
  • 12:33 - 12:36
    a recordar nomes e números de telefone
  • 12:36 - 12:39
    e instruções dos nossos colegas,
    palavra por palavra,
  • 12:39 - 12:43
    temos uma memória visual e espacial
    realmente excecional.
  • 12:44 - 12:47
    Se vos pedir para repetirem
    as primeiras 10 palavras
  • 12:47 - 12:50
    da história do Simónides
    que vos acabei de contar,
  • 12:50 - 12:52
    é provável que tenham dificuldade.
  • 12:53 - 12:55
    Mas apostaria que,
  • 12:55 - 12:57
    caso vos pedisse para se lembrarem
  • 12:57 - 13:02
    de quem é que está sentado
    num cavalo castanho falante
  • 13:02 - 13:04
    na vossa sala, neste momento,
  • 13:04 - 13:06
    vocês seriam capazes de o fazer.
  • 13:06 - 13:09
    A ideia por trás do palácio da memória
  • 13:09 - 13:13
    é criar este edifício imaginado
    no olhar do vosso espírito
  • 13:13 - 13:15
    e povoá-lo com imagens
  • 13:15 - 13:17
    das coisas que vocês querem recordar.
  • 13:17 - 13:21
    Quanto mais maluca,
    mais estranha, mais bizarra,
  • 13:21 - 13:25
    mais divertida, mais libidinosa,
    mais malcheirosa for a imagem,
  • 13:25 - 13:27
    mais provável é que se torne inesquecível.
  • 13:27 - 13:30
    Este é um conselho com mais de 2000 anos
  • 13:30 - 13:33
    até aos primeiros tratados em latim,
    sobre a memória.
  • 13:33 - 13:35
    Então, como é que funciona?
  • 13:35 - 13:38
    Digamos que vocês foram convidados
  • 13:38 - 13:42
    para fazer uma palestra
    no palco principal da TED
  • 13:42 - 13:44
    e que a querem fazer de cor.
  • 13:44 - 13:49
    Querem fazê-la da mesma maneira
    que Cícero teria feito,
  • 13:49 - 13:52
    caso tivesse sido convidado
    para a TEDxRoma há 2000 anos.
  • 13:53 - 13:55
    O que poderiam fazer
  • 13:55 - 14:01
    era imaginarem-se
    na entrada da vossa casa
  • 14:01 - 14:03
    e arranjar algum género de imagem
  • 14:03 - 14:06
    absolutamente louca, ridícula, inesquecível
  • 14:06 - 14:09
    para vos recordar de que a primeira coisa
    de que querem falar
  • 14:09 - 14:12
    é sobre este concurso completamente bizarro.
  • 14:13 - 14:15
    Depois entrariam em casa,
  • 14:15 - 14:18
    veriam uma imagem do Monstro das Bolachas
  • 14:18 - 14:20
    em cima do Mister Ed.
  • 14:20 - 14:21
    E isso lembrar-vos-ia
  • 14:21 - 14:24
    que quereriam apresentar
    o vosso amigo Ed Cook.
  • 14:24 - 14:27
    A seguir veriam uma imagem da Britney Spears
  • 14:27 - 14:29
    para vos recordar uma piada engraçada
    que querem contar.
  • 14:29 - 14:31
    Vão para a cozinha.
  • 14:31 - 14:33
    O quarto tópico que iriam abordar
  • 14:33 - 14:36
    seria a estranha viagem
    que fizeram durante um ano
  • 14:36 - 14:39
    e que têm alguns amigos
    para vos ajudarem a recordar isso.
  • 14:41 - 14:45
    Era assim que os oradores romanos
    memorizavam os seus discursos,
  • 14:45 - 14:48
    não era palavra por palavra
    — o que só vos irá atrapalhar —
  • 14:48 - 14:51
    mas tópico por tópico.
  • 14:51 - 14:55
    De facto, a expressão "frase tópico,"
  • 14:55 - 14:57
    vem da palavra grega "topos"
  • 14:57 - 14:59
    significa "lugar".
  • 14:59 - 15:03
    É um vestígio de quando as pessoas
    costumavam pensar em oratória e retórica
  • 15:03 - 15:05
    neste tipo de termos espaciais.
  • 15:05 - 15:07
    A expressão "em primeiro lugar",
  • 15:07 - 15:10
    é como o primeiro lugar
    do vosso palácio da memória.
  • 15:10 - 15:12
    Pensei que isto era simplesmente fascinante,
  • 15:12 - 15:14
    e dediquei-me a isso.
  • 15:14 - 15:17
    Fui a mais alguns destes
    concursos de memória
  • 15:17 - 15:19
    e fiquei com a noção de que podia
    escrever mais qualquer coisa
  • 15:19 - 15:23
    sobre esta subcultura
    de memorizadores competitivos.
  • 15:23 - 15:25
    Mas há um problema.
  • 15:25 - 15:28
    O problema é que um concurso de memória
  • 15:28 - 15:31
    é um acontecimento
    patologicamente maçador.
  • 15:31 - 15:33
    (Risos)
  • 15:34 - 15:37
    A sério, é como uma série de tipos
  • 15:37 - 15:39
    a fazerem o exame
    de admissão à faculdade.
  • 15:39 - 15:42
    A situação mais dramática é quando
    alguém começa a massajar as têmporas.
  • 15:42 - 15:45
    Eu sou um jornalista,
    preciso de algo sobre que escrever.
  • 15:45 - 15:48
    Sei que acontecem estas coisas incríveis
    na cabeça destas pessoas,
  • 15:48 - 15:51
    Mas não tenho acesso a elas.
  • 15:51 - 15:54
    Percebi que,
    se fosse contar esta história,
  • 15:54 - 15:56
    teria que me pôr no lugar delas.
  • 15:56 - 16:00
    Então comecei a tentar
    gastar 15 ou 20 minutos
  • 16:00 - 16:02
    todas as manhãs, antes de me sentar
    com o meu New York Times,
  • 16:02 - 16:05
    a tentar recordar-me de qualquer coisa.
  • 16:05 - 16:07
    Podia ser um poema.
  • 16:07 - 16:09
    Podiam ser nomes
    de um livro de curso antigo
  • 16:09 - 16:11
    comprado na feira da ladra.
  • 16:11 - 16:16
    Descobri que isso
    era extremamente divertido.
  • 16:17 - 16:19
    Nunca teria esperado tal coisa.
  • 16:19 - 16:22
    Era divertido porque não se trata
    de treinar a memória.
  • 16:22 - 16:28
    O que se faz é tentar ser
    cada vez melhor a criar, a sonhar,
  • 16:28 - 16:30
    estas imagens totalmente ridículas,
    obscenas, hilariantes
  • 16:30 - 16:33
    e, com alguma sorte, inesquecíveis
    na visão do nosso espírito.
  • 16:34 - 16:36
    Empenhei-me muito nisso.
  • 16:36 - 16:42
    Este sou eu a usar o meu "kit" de treino
    de memorizador competidor habitual.
  • 16:43 - 16:45
    São uns abafadores de som
  • 16:45 - 16:47
    e uns óculos de segurança
  • 16:47 - 16:50
    que foram tapados, exceto
    em duas pequenas aberturas,
  • 16:50 - 16:56
    porque a distração é o pior inimigo
    do memorizador competidor.
  • 16:57 - 16:59
    Acabei por voltar ao mesmo concurso
  • 16:59 - 17:02
    de que tinha feito a cobertura
    no ano anterior.
  • 17:02 - 17:04
    E tive a noção de que podia entrar
  • 17:04 - 17:07
    — uma experiência
    de jornalismo participativo.
  • 17:08 - 17:11
    Pensei que talvez fosse um bom epílogo
    para toda a minha investigação.
  • 17:11 - 17:15
    O problema é que a experiência descambou.
  • 17:15 - 17:18
    Ganhei o concurso,
  • 17:18 - 17:21
    o que não era suposto acontecer.
  • 17:21 - 17:24
    (Aplausos)
  • 17:27 - 17:32
    É agradável ser capaz de memorizar discursos,
  • 17:32 - 17:35
    números de telefone e listas de compras,
  • 17:35 - 17:38
    mas, na verdade, isso não vem ao caso.
  • 17:38 - 17:40
    São apenas truques.
  • 17:40 - 17:42
    São truques que funcionam
  • 17:42 - 17:45
    porque são baseados nalguns princípios
    bastante básicos
  • 17:45 - 17:47
    sobre como funciona o nosso cérebro.
  • 17:47 - 17:51
    Vocês não têm que construir
    palácios da memória
  • 17:51 - 17:53
    nem memorizar baralhos de cartas
  • 17:53 - 17:55
    para beneficiar de um pouco de compreensão
  • 17:55 - 17:57
    sobre como funciona o vosso espírito.
  • 17:57 - 18:00
    Falamos das pessoas
    com memórias notáveis
  • 18:00 - 18:01
    como se fosse uma espécie
    de talento inato,
  • 18:01 - 18:03
    mas não é esse o caso.
  • 18:04 - 18:06
    As memórias notáveis são aprendidas.
  • 18:07 - 18:10
    Ao nível mais básico, nós recordamos
    quando prestamos atenção.
  • 18:11 - 18:14
    Recordamos quando estamos
    profundamente concentrados.
  • 18:14 - 18:17
    Recordamos quando somos capazes
    de pegar num pedaço de informação,
  • 18:17 - 18:20
    de sentir e descobrir porque é
    que tem significado para nós,
  • 18:20 - 18:23
    porque é que é importante,
    porque é que é colorido,
  • 18:23 - 18:25
    quando somos capazes de o transformar
  • 18:25 - 18:27
    numa coisa que faça sentido,
  • 18:27 - 18:30
    à luz das outras coisas
    que pairam no nosso espirito,
  • 18:30 - 18:34
    quando somos capazes
    de transformar Moleiros em moleiros.
  • 18:35 - 18:38
    O palácio da memória,
    estas técnicas de memória,
  • 18:38 - 18:39
    são apenas atalhos.
  • 18:39 - 18:42
    De facto, nem sequer são atalhos.
  • 18:42 - 18:45
    Funcionam porque nos fazem funcionar.
  • 18:45 - 18:49
    Forçam uma espécie
    de profundidade de processamento,
  • 18:49 - 18:50
    um tipo de consciência,
  • 18:50 - 18:54
    que a maior parte de nós
    não anda para aí a exercitar.
  • 18:54 - 18:57
    Mas na verdade não há atalhos.
  • 18:57 - 19:00
    É assim que as coisas
    se tornam memoráveis.
  • 19:00 - 19:04
    E penso que, se há uma coisa que vos quero deixar,
  • 19:04 - 19:07
    é o que me deixou E.P.,
  • 19:07 - 19:11
    o amnésico que nem conseguia recordar
    que tinha um problema de memória.
  • 19:12 - 19:16
    Ou seja, a a noção de que a nossa vida
  • 19:16 - 19:19
    é a soma das nossas memórias.
  • 19:19 - 19:25
    Até que ponto estamos
    dispostos a desperdiçar
  • 19:25 - 19:29
    pedaços a nossa vida já demasiado curta,
  • 19:29 - 19:34
    quando mergulhamos
    nos Blackberries, nos iPhones,
  • 19:35 - 19:39
    quando não damos atenção
    ao ser humano ao nosso lado
  • 19:39 - 19:41
    que está a falar connosco,
  • 19:41 - 19:43
    quando somos tão preguiçosos
    que não estamos dispostos
  • 19:43 - 19:46
    a processar profundamente?
  • 19:47 - 19:50
    Aprendi por experiência própria
  • 19:50 - 19:53
    que há capacidades de memória incríveis
  • 19:53 - 19:55
    latentes em todos nós.
  • 19:55 - 19:58
    Mas se queremos ter uma vida memorável,
  • 19:58 - 20:01
    temos que ser o tipo de pessoa
  • 20:01 - 20:03
    que se lembra de recordar.
  • 20:03 - 20:05
    Obrigado.
  • 20:05 - 20:08
    (Aplausos)
Title:
Proezas de memória que qualquer um pode fazer
Speaker:
Joshua Foer
Description:

Há pessoas que conseguem memorizar rapidamente listas de milhares de números, a ordem de todas as cartas de um baralho (ou de dez!) e muito mais. O escritor de ciência, Joshua Foer, descreve a técnica — o chamado de palácio da memória — e mostra a sua proeza mais memorável: qualquer um pode aprender a usá-la, ele inclusive.

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English
Team:
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TEDTalks
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