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Joshua Foer: Façanhas de memória que qualquer um pode fazer

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    Eu gostaria de convidá-los a fecharem seus olhos.
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    Imagine-se de pé
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    do lado de fora da porta principal da sua casa.
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    Gostaria que você observasse a cor da porta,
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    e o material em que foi feita.
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    Agora, visualize um grupo de nudistas gordos de bicicletas.
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    Eles estão nus numa corrida de bicicleta
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    e estão vindo em direção à sua porta da frente.
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    Preciso que você realmente veja isso.
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    Eles estão pedalando com força, suados,
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    sacolejando bastante.
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    E eles batem de cara bem na sua porta principal.
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    Bicicletas voam para todos os lados, rodas passam rolando por você,
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    raios acabam em cantos desconfortáveis.
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    Dê um passo pelo limiar de sua porta
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    para o vestíbulo, corredor, ou o que quer que esteja do outro lado,
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    e aprecie a qualidade da luz.
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    A luz está brilhando sobre o Come-Come.
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    O Come-Come está acenando para você,
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    montado num cavalo cor de canela.
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    É um cavalo falante.
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    Você praticamente pode sentir o pelo azul fazendo cócegas no seu nariz.
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    Você consegue sentir o cheiro da bolacha de aveia e passas que ele está prestes a devorar.
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    Passe por ele. Passe por ele até sua sala de estar.
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    Na sua sala, num devaneio total,
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    imagine Britney Spears.
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    Ela veste roupas provocantes, está dançando na sua mesa de centro,
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    e canta "Hit Me Baby One More Time".
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    Então me siga até a cozinha.
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    Na sua cozinha, o chão foi pavimentado com tijolos amarelos
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    e, do forno, estão saindo em direção a você
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    Dorothy, o Homem de Lata,
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    o Espantalho e o Leão de "O Mágico de Oz",
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    de mãos dadas, pulando na sua direção.
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    Ok. Abra os olhos.
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    Quero contar-lhes sobre um concurso bizarro
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    que acontece toda primavera em Nova Iorque.
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    É chamado de Campeonato Americano de Memória.
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    E eu fui cobrir esse concurso alguns anos atrás,
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    como jornalista científico,
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    esperando, acho, que isso fosse ser
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    como uma Supercopa de sábios estudiosos.
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    Era um bando de rapazes e algumas mulheres,
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    de idades e higiene bem variadas
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    (Risos)
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    Estavam memorizando centenas de números aleatórios,
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    olhando para eles apenas uma vez.
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    Estavam memorizando nomes de dúzias e dúzias de estranhos.
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    Estavam memorizando poemas inteiros em apenas alguns minutos.
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    Estavam competindo para ver quem conseguia decorar
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    mais rápido a ordem das cartas de um baralho embaralhado.
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    Eu não podia acreditar.
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    Essas pessoas devem ser aberrações da natureza.
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    E comecei a conversar com alguns competidores.
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    Este cara se chama Ed Cook
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    e veio da Inglaterra
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    onde ele tinha uma das melhores memórias treinadas.
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    E eu lhe disse: "Ed, quando foi que você percebeu
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    que era um expoente?"
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    E ele respondeu: "Não sou um expoente.
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    Na verdade, eu tenho apenas uma memória mediana.
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    Todos os concorrentes deste concurso
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    irão lhe dizer que têm apenas uma memória mediana.
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    Nós todos nos treinamos
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    para realizar estas façanhas absolutamente milagrosas da memória,
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    usando uma série de técnicas antigas,
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    técnicas inventadas 2.500 anos atrás, na Grécia,
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    as mesmas técnicas que Cicero usou
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    para memorizar seus discursos,
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    que estudiosos medievais usaram para memorizar livros inteiros."
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    E eu fiquei tipo, "Uau. Como eu nunca ouvi falar disso antes?"
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    Estávamos parados do lado de fora da sala de competições,
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    e Ed, que é maravilhoso, brilhante,
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    mas de certa forma um inglês excêntrico,
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    me disse, "Josh, você é um jornalista americano.
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    Você conhece a Britney Spears?"
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    Eu disse: "Quê? Não. Por quê?"
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    "Porque eu gostaria mesmo de ensinar a Britney Spears
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    como memorizar a ordem de um baralho embaralhado
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    em rede nacional, nos EUA.
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    Irá provar ao mundo que qualquer um pode fazer isso."
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    (Risos)
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    Eu acrescentei: "Bem, não sou a Britney Spears,
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    mas talvez você possa me ensinar.
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    Digo, você tem que começar em algum lugar, certo?"
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    E esse foi o início de uma jornada bem estranha pra mim.
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    Terminei gastando parte do próximo ano
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    não apenas no treinamento da minha memória,
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    mas também investigando-a,
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    tentando entender como ela funciona,
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    por que ela não funciona algumas vezes
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    e qual seria seu potencial.
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    Conheci muitas pessoas bem interessantes.
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    Esse é um cara chamado E.P.
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    Ele é um amnésico que tem, provavelmente,
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    a pior memória do mundo.
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    Sua memoria era tão ruim
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    que ele nem lembrava que tinha um problema de memória,
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    o que é incrível.
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    E ele era essa figura incrivelmente trágica,
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    mas era uma janela na medida
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    em que nossas memórias nos fazem ser quem somos.
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    O outro lado do espectro: conheci este cara.
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    Este é Kim Peek.
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    Ele foi a base para o personagem de Dustin Hoffman no filme "Rain Man".
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    Passamos uma tarde juntos,
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    na biblioteca pública de Salt Lake City, memorizando listas telefônicas,
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    o que foi brilhante.
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    (Risos)
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    Voltei e li muitos tratados sobre a memória,
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    tratados escritos há mais de 2000 anos,
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    em latim, na antiguidade
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    e, mais tarde, na Idade Média.
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    E aprendi muitas coisas interessantes.
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    Umas dessas coisas interessentes que aprendi
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    é que, algum tempo atrás,
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    essa ideia de cultivar uma memória treinada, disciplinada
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    não era tão estranha como nos parece hoje em dia.
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    Tempos atrás, as pessoas investiam em suas memórias,
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    em diligentemente equipar suas mentes.
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    Durante os últimos milênios
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    nós inventamos uma série de tecnologias --
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    de alfabeto a papiro,
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    código, impressora, fotografia,
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    computador, smartphone --
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    que, progressivamente, facilitaram cada vez mais
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    a alocação de nossas memórias como exteriores a nós,
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    para que essencialmente terceirizássemos
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    essa fundamental capacidade humana.
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    Essas tecnologias tornaram possível o nosso mundo moderno
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    mas elas também nos modificaram.
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    Elas nos modificaram culturalmente
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    e eu diria que elas nos mudaram cognitivamente.
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    Tendo pouca necessidade de lembrar,
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    às vezes, parece que nos esquecemos de como fazê-lo.
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    Um dos últimos lugares na Terra
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    onde ainda encontramos pessoas apaixonadas por essa ideia
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    de cultivar uma memória treinada e disciplinada
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    é essa totalmente única competição da memória.
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    Na verdade, não é tão única,
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    há concursos acontecendo por todo o mundo.
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    E eu estava fascinado, queria saber como esses caras fazem isso.
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    Alguns anos atrás, um grupo de pesquisadores da University College, em Londres,
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    trouxeram para o laboratório vários campeões da memória.
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    Eles queriam saber:
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    esses caras têm cerebros
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    que são, de alguma forma, na estrutura, na anatomia, diferentes dos nossos?
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    A resposta foi negativa.
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    Será que eles são mais inteligentes que nós?
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    Deram a eles pilhas de testes cognitivos,
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    e a resposta foi: na verdade não.
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    Houve, no entanto, uma diferença interessante e expressiva
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    entre os cerébros dos campeões da memória
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    e os dos indivíduos de controle com os quais eles estavam sendo comparados.
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    Quando colocaram esses caras em uma máquina de ressonância magnética
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    e escanearam seus cerébros
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    enquanto eles estavam memorizando números, fisionomias e fotos de flocos de neve,
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    descobriram que os campeões da memória
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    estavam acessando partes diferentes do cerébro
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    do que qualquer outra pessoa.
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    Notem que eles estavam usando ou pareciam usar
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    a parte do cerébro que está relacionada com a memória espacial e a navegação.
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    Por quê? E há algo que podemos aprender a partir disso?
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    O esporte da memorização competitiva
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    é impulsionado por um tipo de corrida às armas
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    em que todos os anos alguém aparece
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    com uma nova forma de lembrar mais coisas rapidamente,
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    e os demais competidores têm que brincar de pique.
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    Esse é meu amigo Ben Pridmore,
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    campeão mundial de memorização por três vezes.
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    Na mesa à sua frente,
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    há 36 baralhos de cartas embaralhados
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    que ele está prestes a memorizar em uma hora,
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    usando uma técnica que ele inventou e dominou sozinho.
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    Ele usava uma técnica parecida
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    para memorizar a ordem exata
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    de 4.140 dígitos binários aleatórios
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    em meia hora.
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    Sim.
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    E, ainda que haja muitas maneiras
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    de lembrar as coisas nessas competições,
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    tudo, todas as técnicas que estão sendo usadas
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    chegam finalmente a um conceito
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    ao qual os psicólogos se referem como codificação elaborativa.
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    E é bem ilustrado por um paradoxo estiloso,
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    conhecido por paradoxo de 'Baker / baker',
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    que é mais ou menos assim:
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    se eu disser para duas pessoas se lembrarem da mesma palavra,
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    se eu disser para você
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    "Lembre-se de que há um cara chamado Baker."
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    Esse é o sobrenome dele.
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    E digo a você: "Lembre-se de que há um cara que é um 'baker' (padeiro)."
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    E mais tarde, em algum momento, eu me volto a vocês
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    e digo: "Vocês se lembram daquela palavra
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    que eu lhes disse há pouco?
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    Lembram-se do que era?"
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    A pessoa a quem foi dito que o sobrenome era Baker
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    está menos propensa a lembrar a mesma palavra
  • 9:56 - 10:00
    que a pessoa a quem foi dito que ele é um 'baker'.
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    Mesma palavra, diferente forma de lembrar; é estranho.
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    O que acontece aqui?
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    Bom, o sobrenome Baker não significa nada pra você.
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    Está completamente desconectado
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    de todas aquelas memórias flutuando dentro do seu crânio.
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    Mas o nome comum 'baker' (padeiro),
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    nós conhecemos 'bakers'.
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    'Bakers' usam chapéus brancos engraçados.
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    'Bakers' têm farinha nas mãos.
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    'Bakers' cheiram bem quando chegam em casa do trabalho.
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    Talvez até conheçamos um 'baker'.
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    E quando nós ouvimos aquela palavra pela primeira vez,
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    começamos a colocar esses ganchos associativos nela
  • 10:31 - 10:35
    que tornam fácil pescá-la em algum momento posterior.
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    A arte do que está acontecendo
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    nesses concursos de memória,
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    e toda a arte de lembrar melhor coisas na vida cotidiana,
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    é imaginar formas de tranformar o B maiúsculo de 'Bakers'.
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    em b minúsculo de 'bakers' --
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    localizar informação que está faltando no contexto,
  • 10:53 - 10:55
    em significado, em sentido,
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    e tranformá-la de alguma forma
  • 10:57 - 10:59
    para que ela se torne significante,
  • 10:59 - 11:04
    à luz de todas as outras coisas que você tem na mente.
  • 11:04 - 11:07
    Uma das formas mais elaboradas de fazer isso
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    data de 2500 anos atrás, na Grécia Antiga.
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    Tornou-se conhecida como o palácio da memória.
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    A história por trás de sua criação é mais ou menos assim.
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    Havia um poeta chamado Simonides
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    que estava em um banquete.
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    Ele era, na verdade, a diversão contratada,
  • 11:24 - 11:27
    porque, naquele tempo, se você queria dar uma festa do barulho,
  • 11:27 - 11:30
    você não contratava um D.J., e sim um poeta.
  • 11:30 - 11:35
    E ele se levantava, declamava seus poemas de memória e ia embora,
  • 11:35 - 11:40
    e, no momento que ele saía, o lugar do banquete desmoronou,
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    matando todo mundo lá dentro.
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    E não só matou todo mundo,
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    também desfigurou os corpos para além de qualquer reconhecimento.
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    Ninguém conseguia dizer quem estava dentro,
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    ninguém conseguia dizer onde estavam sentados.
  • 11:55 - 11:57
    Os corpos não podiam ser enterrados adequadamente.
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    É uma tragédia compondo outra.
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    Simonides, parado do lado de fora,
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    o único sobrevivente entre os escombros,
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    fecha os olhos e têm essa percepção,
  • 12:09 - 12:12
    que é aquela dos olhos de sua mente,
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    ele podia relembrar em qual lugar cada um dos convidados estava sentado.
  • 12:17 - 12:19
    E ele pega os parentes pela mão
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    e os guia cada um para seus amados, entre os escombros.
  • 12:23 - 12:27
    O que Simonides percebe naquele momento
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    é algo que penso que todos nós sabemos intuitivamente,
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    isto é, por pior que sejamos
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    em lembrar nomes ou telefones
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    e cada palavra das instruções dos nossos colegas,
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    nós temos uma excepcional memória espacial e visual.
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    Se eu lhes pedir para recontar as primeiras 10 palavras
  • 12:47 - 12:50
    da história que acabei de contar sobre Simonides,
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    a chance é de que vocês tenham muita dificuldade tentando.
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    Mas eu apostaria
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    que, se eu pedisse que lembrassem
  • 12:57 - 13:02
    quem está sentado na sela de um cavalo castanho falante
  • 13:02 - 13:04
    na sua sala agora mesmo,
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    você seria capaz de ver isso.
  • 13:06 - 13:08
    A ideia por trás do palácio da memória
  • 13:08 - 13:13
    é criar um edifíco imaginário dentro dos olhos da sua mente
  • 13:13 - 13:15
    e povoá-lo com imagens
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    de coisas que você quer lembrar --
  • 13:17 - 13:20
    as imagens mais loucas, esquisitas, bizarras,
  • 13:20 - 13:24
    engraçadas, provocadoras, espantosas
  • 13:24 - 13:27
    são, provavelmente, as mais inesquecíveis.
  • 13:27 - 13:30
    Esse conselho data de mais de 2000 anos atrás,
  • 13:30 - 13:33
    nos primeiros tratados latinos sobre memória.
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    Então, como funciona?
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    Digamos que você foi convidado
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    para fazer um discurso no palco principal do TED
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    e você quer fazê-lo de memória,
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    você quer fazê-lo como Cicero teria feito,
  • 13:48 - 13:53
    se ele tivesse sido convidado para o TEDx Roma há 2000 anos.
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    O que você poderia fazer
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    é imaginar-se na porta da frente da sua casa.
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    E você encontraria algum tipo
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    de imagem absolutamente louca, ridícula, inesquecível,
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    para lembrar-lhe que a primeira coisa que você quer falar
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    é sobre esse desafio totalmente bizarro.
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    E depois você entraria na sua casa,
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    e veria a imagem do Come-come
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    em cima do Mister Ed.
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    E isso o lembraria
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    que você gostaria de introduzir seu amigo Ed Cook.
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    A seguir, você veria uma imagem da Britney Spears
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    para lembrar-se dessa piada engraçada que você quer contar.
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    E você entraria na cozinha,
  • 14:31 - 14:33
    e a quarta coisa de que você falaria
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    seria sobre essa estranha jornada que você viveu por um ano
  • 14:36 - 14:41
    e você tem alguns amigos que o ajudam a lembrar isso.
  • 14:41 - 14:45
    Era assim que os oradores romanos memorizavam seus discursos --
  • 14:45 - 14:48
    não era palavra por palavra, o que só sacanearia você,
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    mas tópico a tópico.
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    Na verdade, a expressão "tópico frasal",
  • 14:54 - 14:57
    que vem da palavra grega "topos"
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    que significa "lugar".
  • 14:59 - 15:00
    Isso é um vestígio
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    de como as pessoas costumavam pensar em oratória e retórica
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    nesses termos espaciais.
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    A expressão "em primeiro lugar"
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    é como o primeiro lugar do seu palácio da memória.
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    Achei que essa forma era simplesmente fascinante,
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    e realmente entrei nela.
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    E fui a mais alguns desses concursos.
  • 15:17 - 15:19
    E tive a impressão de que poderia escrever algo mais longo
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    sobre essa subcultura de memorizadores competitivos.
  • 15:23 - 15:25
    Mas havia um problema.
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    O problema era que um concurso de memória
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    é um evento patologicamente entendiante.
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    (Risos)
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    Sério, é como um grupo de pessoas sentadas fazendo provas.
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    Digo, o mais dramático que fica
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    é quando alguém começa a massagear a têmpora.
  • 15:41 - 15:44
    E eu sou jornalista, preciso de algo sobre o que escrever.
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    Sei que há essas coisas incríveis acontecendo dentro das mentes dessas pessoas,
  • 15:48 - 15:50
    mas eu não tenho acesso a elas.
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    E percebi que, se eu quisesse contar essa história,
  • 15:53 - 15:56
    teria que me colocar no lugar delas um pouquinho.
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    Então, tentei gastar de 15 a 20 minutos,
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    todas as manhãs, antes de me sentar para ler o New York Times,
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    apenas tentando lembrar algo.
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    Talvez um poema.
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    Talvez nomes de um velho livro do ano
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    que eu comprei no sebo.
  • 16:11 - 16:16
    E descobri que isso era surpreendentemente divertido.
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    Nunca esperaria isso.
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    Era divertido porque não é exatamente sobre treinar sua memória
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    O que você está fazendo é tentar melhorar cada vez mais.
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    na criatividade, na possibilidade de sonhar
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    essas imagens completamente ridículas, atrevidas, hilárias
  • 16:30 - 16:34
    e felizmente inesquecíveis aos olhos da sua mente.
  • 16:34 - 16:36
    E eu entrei fortemente nisso.
  • 16:36 - 16:42
    Este sou eu usando meu 'kit' básico de treinamento da memória competitiva.
  • 16:42 - 16:44
    É um par de protetores de orelhas
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    e um par de óculos de segurança que foram mascarados
  • 16:48 - 16:50
    exceto por dois pequenos furos,
  • 16:50 - 16:56
    porque a distração é o pior inimigo do memorizador competitivo.
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    Acabei voltando ao mesmo concurso que eu tinha coberto um ano antes.
  • 17:01 - 17:03
    E tinha essa ideia de que eu entraria ali
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    como um tipo de experimento de jornalismo participativo
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    Seria, eu achava, talvez um bom epílogo para a minha pesquisa.
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    O problema é que o experimento acabou uma loucura.
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    Eu venci o concurso,
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    o que não deveria acontecer.
  • 17:21 - 17:27
    (Risos)
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    Agora, é legal
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    ser capaz de memorizar discursos
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    e telefones e listas de compras,
  • 17:34 - 17:37
    mas é, na verdade, além do ponto.
  • 17:37 - 17:39
    Esses são apenas truques.
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    São truques que funcionam
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    porque são baseados em princípios bem elementares
  • 17:45 - 17:46
    sobre como funciona nosso cerébro.
  • 17:46 - 17:50
    E você não precisa ficar construindo palácios de memória
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    ou memorizando pacotes de baralhos
  • 17:52 - 17:54
    para se beneficiar de um pouquinho de discernimento
  • 17:54 - 17:57
    sobre como funciona sua mente.
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    Sempre falamos de pessoas com grandes memórias
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    como se isso fosse um tipo de dom inato,
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    mas esse não é o caso.
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    Grandes memórias são desenvolvidas.
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    No nível mais básico, nós lembramos quando prestamos atenção.
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    Nós lembramos quando estamos profundamente envolvidos.
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    Lembramos quando somos capazes
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    de pegar um pouco de informação e experiência
  • 18:18 - 18:20
    e descobrir porque é tão significante para nós,
  • 18:20 - 18:22
    porque é significante, porque é colorido,
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    quando somos capazes de transformá-lo de alguma forma
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    que faça sentido,
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    à luz de todas as coisas que estão flutuando em nossas mentes,
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    quando somos capazes de transformar 'Bakers' em 'bakers'.
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    O palácio da memória, essas técnicas de memorização,
  • 18:37 - 18:38
    são apenas atalhos.
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    Na verdade, eles nem são verdadeiros atalhos.
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    Eles funcionam porque fazem você funcionar.
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    Eles forçam um tipo de processamento profundo,
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    um tipo de preenchimento completo da mente,
  • 18:50 - 18:54
    que a maioria de nós não anda exercitando por aí.
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    Mas, na verdade, não há atalhos.
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    É assim que as coisas se tornam memoráveis.
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    E acho que se há algo que quero deixar com vocês,
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    é aquilo que E.P.,
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    o amnésico que nem podia lembrar que tinha um problema de memória,
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    me deixou,
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    que é a noção
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    de que nossas vidas são o resumo de nossas memórias.
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    Quanto desejamos perder
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    da nossa já tão curta vida
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    por perder-nos nos nossos Blackberries ou Iphones,
  • 19:35 - 19:39
    por não prestar atenção no ser humano à nossa frente,
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    que está falando conosco,
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    por ser tão preguiçosos que não queremos
  • 19:43 - 19:46
    processar profundamente?
  • 19:46 - 19:49
    Aprendi de primeira mão
  • 19:49 - 19:52
    que há capacidades de memorização incríveis
  • 19:52 - 19:54
    latentes em todos nós.
  • 19:54 - 19:58
    Mas, se você quer viver uma vida memorável,
  • 19:58 - 20:00
    você tem que ser o tipo de pessoa
  • 20:00 - 20:03
    que lembra de se lembrar.
  • 20:03 - 20:05
    Obrigado.
  • 20:05 - 20:08
    (Aplausos)
Title:
Joshua Foer: Façanhas de memória que qualquer um pode fazer
Speaker:
Joshua Foer
Description:

Há pessoas que podem rapidamente memorizar uma lista de milhares de números, a ordem de um baralho (ou de dez!) e muito mais. O escritor cientista Joshua Foer descreve a técnica -- chamada de palácio da memória -- e mostra suas características mais notáveis: qualquer um pode aprender a usá-las, inclusive ele.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
20:28

Portuguese, Brazilian subtitles

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