"Os Três Corvos" Canção Popular Lá ao longe num campo verde Está um cavaleiro morto debaixo do seu escudo Os seus cães estão deitados a seus pés Para guardar o seu dono Os seus falcões voam tão avidamente Que ninguém ousa chegar perto Podem dizer que a música é pesada pela maneira como soa. Mas, para mim, vem da experiência das pessoas que a fazem. Isso é o que a faz pesada. Eu prefiro estar pedrado ou morrer do que viver. Esse tipo de coisa. E pode ser a coisa mais pesada do mundo. Heavy tem a ver com estar zangado e ser um guerreiro. É como se estivesses numa batalha, tivesses um machado e degolasses alguém. E tens um riff que toca da mesma maneira. Isso é Heavy. Quando os Beatles vieram à América tinham uns amplificadores minúsculos e não se conseguia ouvir nada para além de raparigas a gritar. Isso mudou quando a Marshall, Laney e Orange começaram a fazer estes amplificadores gigantes de alta potência, que de repente calaram o público. Uma grande parte da música Hard Rock do início está só a tentar perceber o que fazer com toda esta distorção e volume. Há coisas que podes fazer com um tom limpo que são tão maléficas e obscuras que fazem os Black Sabbath parecer Peggy Lee. Levou tempo para perceber como fugir dessa ideia de estar só a abanar a cabeça com cornos de diabo que na música Heavy Rock estávamos a fazer cenas estranhas. Então como é que vamos fazer este som? Como é que podemos pô-lo num armário, num espaço pequeno? Vamos pô-lo num caixão, ver que tipo de performance vocal conseguimos e que tipo de tom podemos tirar daqui. A quinta bemol é muito mais pesada do que... Sabem o quero dizer? É terra a terra, é muitas vezes crua e é real. E quando ficas mesmo tecnicamente profissional isso suga a alma ao Rock & Roll. Quando alguém tem mesmo algo para dizer e eu não digo, necessariamente, de forma verbal, mas emocionalmente. Sai da música e acerta-nos em cheio. Isso é que é música Heavy para mim. Não tem de necessariamente ser só guitarras barulhentas, apesar de eu adorar guitarras barulhentas. OS BARES NÃO QUERIAM QUE TOCÁSSEMOS LÁ Parece que Heavy e a expressão moderna é sempre algo que envolve distorção e volume alto. Uma espécie de referência às primeiras bandas Heavy. Como os Black Sabbath, Blue Cheer e Led Zeppelin. Toda a experiência de crescimento no início dos anos setenta foi muito tensa e teve muitos problemas que a indústria de entertenimento não mencionava. E definitivamente nem a indústria da música Pop. Eu adorava voltar aos anos setenta e revivê-lo porque tinhas os Black Sabbath no seu auge, tinhas os Captain Beyond tinhas os Deep Purple no Rock tinhas os Mountain, os Grand Funk tinhas os The Stooges tinhas Atomic Rooster, Dust, Groundhogs, Stray. Todas estas bandas incríveis. Desde 1972 que tem piorado. Sim, desde que o Volume 4 foi lançado. Os Sabbath... ponto de discussão desnecessário. Eu costumo referir os Hawkwind porque eles foram uma grande influência para mim nessa altura. Durante a altura dos Green River, eu descobri os Hawkwind. E tenho estado apaixonado pelos primeiros quatro ou cinco álbuns desde essa altura. Mountain, Zeppelin, Free. Como todos os miúdos da nossa idade, os Kiss. Nós tínhamos todos os álbuns dos The Dictators. James Gang, Joe Walsh Neil Young Leaf Hound Mahavishnu Orchestra Giant, Crimson Alice Cooper foi o primeiro bom álbum que comprei. Claro que gosto dos Sabbath, isso é o óbvio. Eles conhecem os Sabbath e isso é óptimo, mas os Sabbath estão batidos. Muitas das bandas que eu e o Bobby gostávamos são o que eu chamo, bandas de categoria B ou C, como Dust ou Baltimore. Sir Lord Baltimore, eu não conhecia estas bandas até há poucos anos quando as ouvi e parti-me a rir porque é mesmo excessivo. Pões este álbuns a tocar e pensas: "Isto não é Steely Dan" mas não é Barracuda, não é Supertramp. De certa forma, os Black Sabbath nunca passavam na rádio, mas as pessoas iam a concertos. E acho que era por isso que havia mais dinheiro para essas bandas que iam em tour. E podem ficar conhecidos, receber o disco de platina sem nunca estarem na rádio. Nos anos 70 havia muito mais Hard Rock regional. Havia bandas como os Pentagram em Washinton D.C. que não faziam parte do sistema de grandes gravadoras. Pentagram foi formada no fim de 1971. O Bobby foi o primeiro. Posso já dizer-vos isso. Bobby Liebling foi o primeiro. Literalmente, uma noite, eu e o Bobby estávamos sentados em casa de um amigo a ficar pedrado, como de costume, praticamente todas as noites e dissemos, porque não criamos uma banda que é exactamente aquilo que queremos fazer? Durante o tempo em que estive na banda, de 1971 a 1976, eu diria que éramos uma banda de Hard Rock. talvez uma banda de Heavy Hard Rock, mas não éramos uma banda de Heavy Metal. Não queríamos tocar em discotecas, porque as discotecas não nos queriam a tocar lá. Porque nós não fazíamos covers. Se ouvirem as canções do Bobby, elas eram criativas, incrivelmente inventivas compassos estranhos e assim. Mas as editoras diziam que não era certo para a rádio, não conseguimos vender isto, não conseguimos ouvir um single. Nós só queríamos gravar o nosso próprio material e lançá-lo. Por isso nós tínhamos vários managers que se mantiveram ao nosso lado por vários períodos de tempo. Que nos levavam aos estúdios, pagavam pelas sessões e tentavam arranjar-nos um contracto de gravação. E falharam todas as vezes. A Columbia Records queria o Bobby e o Bobby conseguiu uma grande audição em Nova Iorque num grande estúdio. Essa foi a última gota de água porque, basicamente, o Bobby arruinou o nosso contrato de gravação com a Columbia Records. Nós queríamos melhorar a nossa prestação, mas o homem que estava a pagar pela nossa sessão, a Colombia Records, disse não se preocupem e esse devia ser o fim da discussão. E o Bobby queria fazer à maneira dele e aí têm, esse foi o fim da Columbia Records. O problema foram as drogas e o Bobby ficou com uma má reputação. O Bobby esteve sempre a um passo de se tornar uma estrela de Rock lendária. Eu não conhecia os Pentagram da primeira vez que eles apareceram. Eu acho que os álbuns deles eram quase impossíveis de encontrar. E não ouvi sequer falar dos Pentagram até os álbuns começarem a ser reeditados. Bobby tinha este material e, acreditem ou não, mesmo nessa altura apesar de serem de 8 pistas, às vezes 4, tinham imensa qualidade. O Bobby conseguiu um contrato com a Relapse e eles queriam criar uma compilação com muitas das nossas demos dos anos setenta. As demos que tínhamos gravado em estúdio com os vários managers. Eu adorava o material dos Pentagram dos anos oitenta e noventa e estou mesmo orgulhoso do Bobby por ter continuado a banda todos esses anos porque se ele não tivesse continuado a banda não estariam a falar comigo neste momento. A constituição original dos Pentagram desfez-se em 1976. Geof O'Keefe e o guitarrista dos Pentagram Randy Palmer continuam o projecto Bedemon, que começou em 1973. Bobby Liebling e novos membros lançaram álbuns Pentagram, recentemente em 2004. Nós temos uma estrutura base, temos o esqueleto mas há tanto por preencher, essas partes duram cerca de cinco a dez minutos e depois improvisamos por vinte minutos e é sempre diferente. Existe sempre uma interação entre nós enquanto tocamos. Eu costumo chamar-lhe o aceno cósmico. Eu acho que é uma coisa muito espiritual especialmente para nós quando tocamos durante muito tempo. Dessa maneira conseguimos manter uma nota durante cinco minutos. Entregas-te a ela e isso dá-te tempo para pensar. Para explorar o que vai na tua mente quando te entregas ao momento. Nós falámos sobre isso e pensámos se deveríamos escrever canções ou arranjar um vocalista. E concluímos que gostavamos de como estava. O Metal nos anos oitenta tornou-se numa fórmula. Só têm de olhar para o álbum Turbo dos Judas Priest e compará-lo com os Stain Glass ou Sin After Sin e percebem o que aconteceu à música nos anos oitenta. A primeira fase do Hard Rock Psicadélico acabou quando a droga de eleição tornou-se a cocaína. Todos os aspectos negativos da gravação em estúdio são amplificados pelo uso de cocaína pelos engenheiros, produtores, músicos Havia música com base fórmulas e produção em estúdio, e depois havia uma onda "underground" estranha. Talvez os Venom, os Metallica andavam entre o estilo Punk e Metal. Eu não me identificava com a onda do Ozzy Osbourne, Judas Priest. Não havia Punks a ir a concertos de Metal e fãs de Metal a ir a concertos Punk. E depois durante 1984 ou 1985 essa linha de separação ficou menos nítida. Houve mesmo um momento decisivo quando The Obsessed foram aceites pela comunidade Punk. E isso acontecia quando, por exemplo, estávamos a tocar num pequeno bar e o P.A deixou de funcionar. e em vez de pararmos tocámos o set inteiro sem o P.A. A gritar, a tocar com o dobro da velocidade. Depois disso, o Sam disse "Ok, vou vomitar". Eu acho que as bandas Hardcore de D.C. foram o que me despertou interesse em bandas como Spring, Void. Alguém me disse: "Se queres ouvir algo rápido, ouve D.R.I e C.O.C." e outras bandas Hardcore do início dos anos oitenta. A primeira vez que vimos os Melvins compreendi que uma banda podia esvaziar uma sala ou mudar completamente a vida de uma pessoa rapido, rapido, rapido, e depois os Melvins apareceram e nós achamos muito fixe Motorhead deveria ter tido mais crédito. Eu digo isto, porque eles foram a primeira banda híbrida de punk metal Trouble foram um exemplo perfeito, os St. Vitus foram um exemplo perfeito. Até os Black Flag eram. Mas eram tão populares que os fãs estavam dispostos a irem à mesma, para houvir músicas do My War. Os Black Flag tocaram no deserto, provavelmente em 1981. O deserto, mesmo agora, mas mais há 15, 20 anos atrás era inicialmente uma comunidade de reformados. É como um aspirador de cultura musical Ninguém se questionava se iria para LA Eu nunca fui para L.A. Se eu fosse para Palm Springs, era um grande acontecimento. Não havia nenhuma loja de discos, a vender Maximum Rock'n'roll ou Flip Side O deserto era tudo e não era algo que nós celebrassemos como se celebraria se fosse hoje. O deserto é um sitio para os recém-casados e para os quase mortos. É mesmo esse tipo de lugar. As bandas de punk rock iam chegando que se estavam a formar. As primeiras foram os Dead Issue e os Skabies Babies. Havia uma banda chamada Dead Issue, da qual eu fazia parte que se tornou Across the River com o Marlow Raollali Alfredo Hernández, também fazia parte da banda Ele tocou nos Kyuss por uns tempos Queens of the Stone Age Haviam mais algumas pessoas, mas eu diria que o núcleo inicial, como Across the River eles foram aqueles que eu me recordo mais vivamente eles foram um momento de mudança O pessoal da SST eram os nossos ídolos, Black Flag, Meat Puppets, Minutemen, October Faction Aqui há pimentos algum tipo de Pimentão Banana estes são pimentões Thay Dragon quando ficam vermelhos ficam mesmo muito picantes O que é doom? Primeiro a minha percepção do estilo de música que nós queremos chamar doom. É como eu disse antes, é como um intestino. É um puxão real, visceral, emocional. Algo que te fará chorar. Quando pensei e comecei a dizer concretamente "estou numa banda de doom" foi definitivamente com Saint Vitus. Tivemos alguns concertos com Saint Vitus quando tinham o antigo vocalista, o Scott Reagers Depois eles arranjaram outro tipo, o Wino o primeiro concerto dele foi no meu 21º aniversário, em 1986 num centro comunitário em Palm Desert os D.R.I, Saint Vitus, e Across the River Sempre pareceu que os Across the River eram algo de especial Temos álbuns desde os Mountain a Black Sabbath os primeiros dos Mettalica todo o tipo de coisas Estávamos a misturar isso com o sentimento que vinha do punk rock. As colunas a derreter à tua frente, adoro esse som, então voltamos atrás e em vez de... Era mais lento, mais calmo, volume, saturação, blues. Eles alienaram-se... desse jogo de ritmos rápidos, e abusar nos riffs, toda a cena do punk metal Eles passaram isso à frente, diretamente para o rock. Ninguém estava a fazer o mesmo. No fim de Across the River, os Soundgarden estavam a começar a atrair multidões em Seattle. E eles eram mesmo parte dos SST O mesmo tipo de coisa que se estava a desenvolver lá, estava a desenvolver-se cá. Toda a gente me conhecia como o vocalista de Saint Vitus mas ninguém sabia que eu tocava guitarra. Houve uma situação engraçada, acho que foi o Scott Mars da banda Across the River, Improvisámos numa festa perto de Ventura, junto à praia, eu estava a tocar bateria, ele estava a tocar guitarra, eu não sabia que ele tocava, o Mario Lalli estava a tocar baixo Fizemos este improviso louco e depois foi tipo, "Temos de formar uma banda um dia destes" Apanhei o Scott e concordamos formar The Obsessed Foi o que fizemos, era eu, o Scott Reeder e o Greg Rogers Depois de alguns problemas aqui e ali, o Scott Reeder saiu para se juntar aos Kyuss foi basicamente quando os Kyuss se popularizaram. Eles eram a única banda em tourné no deserto Foram eles que começaram a perpetuar o nosso universo lá fora. Se houvesse uma espécie de molde para o desert rock, seriam eles. Tipos como o Mario Lalli e Kyuss deram o passo seguinte ao... Não apenas ao dizer, "Somos do deserto por isso se calhar não sabemos o que é fixe noutros sítios" mas em vez disso eles levaram isso a sério e disseram Não só vamos rejeitar o que é fixe, como vamos rejeitar as massas ao mesmo tempo, vamos rejeitar tudo. Detesto dizê-lo, mas a maioria começou a fumar erva. Levas um grupo de miudos a explorar música agressiva, ainda por cima punk hardcore e eles começam a fumar, coisas interessantes acabam por acontecer. Isso é música interessante. O que aconteceu com os The Obsessed foi seguir para o thrash os Slayer e esse tipo de música tinham uma dimensão muito grande Foi isso que os anos 80 se tornaram ou eras uma banda de glam metal ou eras uma banda de thrash metal Se alguém merecia ser uma estrela de rock, era aquele tipo. Isto é o paraíso. Estás destinado a ser o perdedor, não há saída. Tens simplesmente de estar lá. As pessoas vão gostar de ti porque ficaste dessa maneira, manténs-te firme, e nunca páras de tocar aquilo que tocas. Com Guy Pinhas no baixo, os The Obsessed lançaram "The Church Within", na Columbia Records, em 1994. Quando a Columbia lhes pediu uma audição para se manterem na editora, eles acabaram. Desde então o Wino tem estado com os Spirit Caravan e The Hidden Hand. Os Kyuss acabaram em 1995. O guitarrista Josh Homme e o baterista Alfredo Hernandez formaram os Queens of Stone Age com o baixista original dos Kyuss, Nick Oliveri. O Scoot Reeder tocou em Goatsnake e Unida e foi convidado para uma audição com os Metallica. Actualmente é produtor e artista a solo. Formámos os Comets em 1999 o Ben Flashman e eu formamos o grupo em Santa Cruz, Califórnia Nós estávamos na onda do anthemic rock Grand Funk e algum punk rock. Alguns velhos favoritos e coisas desse género Estávamos a começar a experimentar mais. Como Free Jazz, Coltrane... Não é só um sintetizador que faz sons engraçados Não, é de efeitos. Então podes pôr o efeito do sintetizador no teu... A nossa missão original era tentar juntar aquelas duas coisas diferentes que normalmente não ficam bem juntas. Definitivamente tornámos isto em algo mais que um som psicadélico. Tentámos fazer mais do que um tributo ou stoner rock. Se somos uma banda psicadélica? Sim! No tempo dos Kuyss o termo stoner rock não existia era "seguidor de Metal", que era meio ofensivo para nós Para ser honesto nunca me preocupei com classificações pessoais como essas. Se as pessoas perguntassem que tipo de banda eram os Goatsnake eu diria simplesmente que é uma banda de rock pesado Não podiam chamar grunge Não podiam chamar metal Não podiam chamar punk, por isso tinham de inventar um nome Hoje em dia é só hard rock normal. O termo stoner rock é um entrave para aqueles que não ficam pedrados, porque funciona como uma desculpa para desprezarem a música Hoje em dia, quando dizes stoner rock sabes exactamente o que isso significa, são guitarras com distorção, riffs gigantescos, é melódico, até certo ponto. Mas ecoa o rock clássico. Sempre disse que stoner rock é só grunge, e realmente ambos são a continuação do rock dos anos 70. Monster Magnet abriu para os Kyuss. Estávamos a fazer algo entre 93 e 94, afastado do grunge, era mais sombrio, mais pesado e estranho. Mas quando estavamos a ficar conhecidos as bandas estavam a mudar. Os Nebula estavam a mudar, os Queens of the Stone Age estavam a mudar, e continuavam a tentar chamá-lo de stoner rock. Há toda a questão da revista Musician perguntar... Qual é o equipamento que estão a usar? Como está a ser gravado? Não vamos usar equipamento digital. Vamos usar amplificadores de válvulas e esse tipo de coisas. Eu não estava ligada ao movimento do deserto enquanto esta estava a acontecer. Fizémo-lo depois de Man's Ruin, porque estávamos na mesma editora juntos. Acho que se pode dizer que os albuns da Man's Ruin Records, são responsáveis por introduzir as pessoas a muitas destas músicas. Eu acabei por cobrir muitas destas bandas para a primeira edição, porque estava a fazer uma espécie de cobertura da Man's Ruin. Esse género de música que é descrito como stoner rock, que é a definição infeliz com que ficaram. Depois disso, houve uma afluência gigantesca de bandas, como que a copiar esse som. Não tenho a certeza de onde veio esse termo para ser honesto eu não pesquisei, assumo que seja só por causa da música passar pelo improviso, detesto usar orgânico, mas vou, orgânico. Não sei, o que é stoner rock? Diz-me tu! Os Fatso Jetson vieram de um bar de rock que eu e o Larry abrimos. É o resultado de estar farto de ser apanhado em festas e saber que somos capazes de fazê-lo sozinhos. Começámos em 1994, eramos fãs dos Black Flag. Eram uma inspiração para todos nós e pensámos "hey, vamos mandar-nos de cabeça" e fizémo-lo. Tocámos, foi o nosso primeiro concerto e acho que o Greg gostou do que nós fizemos, e ofereceu-se para lançar um CD por nós no SSK. Os blues para mim, a crueza e a honestidade presente, é similar às coisas que aprecio no punk rock. Não é anormal para mim, na a mesma canção encontrar Howlin' Wolf, Black Flag, Link Wray e Devo É muito primitivo. Pomos os nossos discos onde tocamos e depois esse som é mesmo puro. Fazemo-lo, sob os nossos próprios termos e não é uma questão de sobrevivência. É uma questão de desejo de vida. Lembro-me da cena em San Francisco, nos anos 90, ser os Sleep, Neurosis, The Melvins. Havia muitas coisas boas a surgir, como Neurosis, que era o mais importante por aqui, Neurosis e The Melvins, era o centro de tudo. Comecei a tocar com uma banda no secundário, com o Al e o Chris que estão nos Om actualmente. Eles tinham esta banda, os Asbestosdeath. Eles queriam mesmo estar numa banda provavelmente uma reacção à miséria da vida. Não sei, havia uma amizade e de um modo geral eram mesmo bons amigos. A música surgiu daí. Eu e o Al estávamos sentados sobre o efeito de LSD, a fumar e assim, e o Al lembrou-se do nome Sleep e eu disse "Wow, isso é um grande nome". Era mais do que ver um concerto, era viver uma experiência com... Sabes? Pregar-te pelo teu próprio centro. Tinham este massivo... Nunca vi nada assim! É como... Vermelho, verde, azul, Sleep. Eles lançaram dois albuns, Volume 1 e Holy Mountain Depois assinaram com uma major, a London Records. Não tenho a certeza se a London Records sabia o que estava a assinar, porque os Sleep estavam a planear as suas obras-primas Uma canção de 52 minutos. Jerusalem, acho que originalmente se chamava Dopesmoker. As letras incorporam esta espécie de... caravana de drogas para a terra sagrada. Foram 5 anos em que a música se desenvolveu. Tinham tudo escrito e ficaram presos com editoras, Estavam basicamente sentados com isto pronto, e estavam basicamente a morrer na praia. Queriam tirá-lo dali e não podiam, tiveram de esperar um ano só para gravar. Por um período de pelo menos 2 anos recusaram-se a tocar isso ao vivo, porque estavam convictos de ainda não deixar as pessoas ouvirem. Tentámos travar a música e foi tão estranho, como se fosse suposto seguir em frente... Estávamos a tentar descobrir como voltar a pôr os pés na terra, como aterrar. Às vezes o riff é tão bom que só queremos ouvi-lo uma vez, e outra, e outra. Às vezes por 52 minutos! Tanto quanto sei a London sempre soube dos planos deles para a canção. Começou com esta escala de música estranha, quase indiana O intuito era transmitir que a banda estava em hipnose enquanto tocava O baterista carrega essa música. Toda a canção é baseada na bateria e nos tempos, e bater no sítio certo. Há muito mitos e lendas sobre a maneira como Jerusalem foi feito. Algumas coisa podem não ser mitologia. O maior deles é que eles gastaram o dinheiro adiantado com erva? Bem, a parte da erva é totalmente verdade Queimamos muito dinheiro e tempo em erva? Entregar a master a outra editora. Tinha sido uma boa ideia quem me dera que nos tivéssemos lembrado disso. Passámos por aquela que é a coisa mais pesada alguma vez gravada. Não se olhava a despesa, para acrescentar alguma coisa. "Queres adicionar outra guitarra vamos fazer isso... Vamos pôr mais duas." Gastámos 75.000 dólares em amplificadores. Em amplificadores costumizados, guitarras, todo o tipo de coisas. As canções, não só sonoramente mas se seguires as letras é uma caravana a entregar erva. Usámos longsman? e haxixe na mesma linha. Como é que se faz isto? Entregámos aquilo à editora, eles ouviram e depois estavam tipo: "Isto é muito pesado, não há nada que possamos fazer com isto" "É muito isto, muito aquilo" E alguém na editora, não sei quem, meteu na cabeça que se alguém a remisturasse ficaria diferente. Tens uma banda com uma música de 60 minutos, o que esperavas? Rádio? O album foi metido na gaveta e só saiu 3 anos depois de ter sido gravado O que acabou por ser 2 anos e meio depois dos Sleep acabarem. E acabou por tornar-se... Em parte porque era fantástico, mas em parte por causa dos mitos à sua volta, passou a ser visto como um clássico. Um clássico perdido, mesmo. Algum tempo depois de se fazer a remistura. eles decidiram não continuar a ser uma banda. Isso foi em 97. Por volta de 2001 ou 2002, o Matt Pike dos High on Fire que também era dos Sleep, o manager dele, o Tod, perguntou-me se eu queria fazer a versão original desse album que era Dopesmoker, que era a versão completa, não editada, não misturada Não misturada pelo Sardy, que eles arranjaram para tentar melhorar, obviamente eles não estavam contentes com isso. Eles perguntaram se eu o queria fazer e eu disse "absolutamente". Eu gosto dessa versão de Dopsmoker, porque era um bocadinho maior e foi a mistura que fizemos com o Billy, Mais ninguém da editora veio e cortou tudo. Acho que nós os três fizemos as pazes com a canção que sabemos que existe cá dentro, versus o que anda por aí e as pessoas pensam que significa. E acho que foi a maneira de continuarmos e deixarmos isso em paz. Foi aquela espécie de batalha milenar entre o que é arte e o que as editoras pensam que é produto. Vocês estranharam-se por um tempo, depois dos Sleep? Sim. Mais ou menos. Todos nós... Houve muita dor. Não sabíamos exactamente o que dizer uns aos outros Ainda havia amor... Havia amor, ódio e confusão. Só tivemos de lidar com isso durante um tempo. Eu não falei com o Chris durante alguns anos, depois de toda a cena do Dopesmoker e o Al... Foi uma coisa triste, o Al deixou de tocar música, durante 5 anos. Eu diria que deixou mesmo de tocar, só não era muito público em relação a ver alguém, ou estar numa banda, coisas assim. Acho que os Sleep foram quase a essência desta espécie de reavivar que começou a acontecer nos anos 90 daquilo que foi chamado de stoner rock ou doom, ou assim. Eles apanharam o que os Saint Vitus estavam a fazer e os The Melvins, Black Sabbath, claro. Mas acho que eles acertaram em cheio. Pode quase dizer-se que o conseguiram, ao fazerem dois dos melhores álbuns que precisavam de ser feitos naquele género. Eles determinaram, desde o primeiro ensaio que tivemos. Não era necessário mais nenhum elemento, para o que estávamos a fazer não era preciso utilizar uma estrutura tradicional. Usar uma guitarra, para encaixar num tipo de som estabelecido. Há momentos em que estou parado e tenho que transformar as emoções em palavras que sirvam não só propósitos simbólicos, mas, num nível muito prático, propósitos ritmicos. Tenho a certeza que não são combinadas de acordo com a sonoridade gramatical. Às vezes as pessoas dizem: "Sabes outro riff?" ou "Presta atenção, são todos muito..." As repetições que fazemos também... Há coisas em tantos albuns antigos que ouvíamos e crescemos a apreciar, e há alguns segmentos nestas canções, e nós dissemos "porque é que isto não se repete mais?" E às vezes gostava que isso continuasse por 14 ou 15 minutos. As drogas podem mesmo fazer-te escrever uma canção ou fazer qualquer coisa, se houver alguma coisa que te impeça. - É como se ficasses mais concentrado. - Acalmasses, e teres as coisas feitas. Tem alguma coisa a ver com ouvir. Tocar não, mas ouvir. Uma coisa que resulta comigo é usá-las como uma ferramenta de verificação. O sentido de estilo musical é parte da tua mente. As plantas estão vivas e sinto que estive a comunicar com elas através disto. Se há uma maneira de comunicar entre espécies então é provavelmente isto. Ao aumentar a percepção vês as coisas ligeiramente diferentes, e de certa forma é bom, mas não é necessário. No final não é isso que é importante. É uma parte essencial naquilo que fazemos Isto não vai ficar no filme? Pode ser pela viagem, a ideia de viajar até outros domínios, mas isso pode incluir tomar drogas, mas não está limitado a tomar drogas. Pessoas como o H. P. Lovecraft, Lord Dunsany, Clark Ashton Smith, todos estes escritores dos anos 30, e do virar do século, que eram mesmo imaginativos. Especialmente quando os tempos se tornam mais pesados ou politicamente penosos, tipicamente vês mais fantasia, vês mais artistas idealistas, nas suas fantasias pessoais. É preciso motivação e dedicação para escrever canções e ir para o estudio e dedicar a tua vida a fazer música com a banda. Não acho que os que drogados normais consigam chegar tão longe. Todos nós crescemos fora da cidade, o Steve e eu crescemos na Virginia mas há aquele momento em que percebes quanta música vem de Washington DC e toda a cena punk com os Fugazi e toda aquela música que estava a surgir nos anos 80. Nós estávamos nesse tipo de bandas por um tempo e precisávamos de voltar ao que inicialmente nos entusiasmou na música e bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath. Bandas relaxadas, com boa vibração que de certa forma não se pareciam importar. Estamos aqui a gravar o nosso quinto disco, no Sunset Sound, estudios lendários na Sunset Strip. Fala-se muito em bandas que estão a fazer rock clássico, o que nos leva a pensar, se estamos a regressar às bases do rock. Todos os nossos albuns antigos estavam carregados de diferentes atmosferas e efeitos, e agora estamos a tentar captar mais a performance. A espontaneidade, mais direto. Acho que muita da música que escrevo é a pensar em imagens como floresta, oceano, estrelas, andar... Mau tempo ou... sabes... grandes árvores maciças ou falésias ou... É definitivamente uma relação com a Natureza. As árvores são tão bonitas que te fazem sentir feliz e elas parecem tão antigas, com tanta história para contar Sim, definitivamente, há um elemento na nossa música que envolve a natureza e espiritualidade, suponho. E essas são as coisas mais importantes. A minha mãe gostava de ilustrar coisas da natureza Ela desenhava cogumelos, plantas e flores... Isso era o que me rodeava em criança e acho essas coisas realmente inspiradoras. O som e a visão são muito similares e sempre tiveram uma relação um com o outro, para mim. Quer seja a ver um músico tocar ou ouvir um álbum e olhar para o trabalho artístico O que fez com que os posters voltassem atrás em termos de estilo, acho que é a rejeição da arte corporativa e do modo corporativo de encarar as bandas. Eu sento-me, com headphones, e concentro-me realmente. Ouço, fecho os olhos e concentro-me para ver o que acontece, se alguma coisa vem até mim. Eu não gostava de nenhuma imagética musical dos anos 90 Não me interessava. Vampiras, personagens com cabeças grandes... Não é o meu estilo. Faço muito horizontes e céus porque para mim representa toda uma série de possibilidades infinitas. O lugar onde o céu encontra o oceano, sempre vi isso como uma espécie de portal ou uma entrada para mais alguma coisa. Comparando a arte que tem por base a música psicadélica, acho que é algo extraordinariamente criativo. Alguns dos álbuns em que trabalhei, tentei torná-los criativos a vários níveis. Eu penso que a psicadelia de Malleus é a nossa habilidade de desenhar e interpretar as mulheres Nunca há uma "doce figura materna". Vejo a mulher que fazemos como uma rapariga perversa. A imaginação é a melhor droga no mundo Estava mesmo numa de hipnose, ainda estou. Estes designers de Inglaterra fizeram muitas coisas como capas para Dark Side of the Moon, Led Zeppelin muitas outras coisas significativas e reconhecíveis. E o Roger Dean, claro... A imagem fala por si própria, mas eu gosto muito de letras e da estética da palavra Isto são algumas das coisas que tenho feito ultimamente. Fiz estas nas últimas semanas. Isto é o calendário deste ano e isto é o próximo álbum dos Residual Echoes Como estava a pensar de forma muito abstrata, acabou por resultar foi muito detalhado e acho que se tornou numa nova forma de piscadelia que não fosse do tipo "flower power", mas algo mais agressivo Acabou por ser a forma apocalíptica da piscadelia Acho a palavra psicadelia muito interessante e acho que as coisas que eu faço são sempre psicadélicas em determinado aspecto visionário Esteticamente, tem mais em comum com desenho técnico ou desenho arquitectónico. Quando algo tem um som muito, muito grande, parece-me sempre algo muito vasto este espaço em aberto, com nuvens e penhascos... quando é algo lento e pesado, é o que vejo. O que vejo de música mais rápida como os High on Fire é mais imagética que acelera o coração O primeiro álbum, The Art of Self Defense tinha uma onda dos Sleep, mas eu estava a mudar o meu estilo Quando tocava com os Sleep, usávamos tempos mais rápidos mas olhando agora para trás era meio lento, porque estávamos na procura de um novo eu Eu estava à procura do eu guitarrista e estava a começar a cantar. Isso era tudo novo para mim. Pode perceber-se a influência de estar a sair daquela banda, pelo menos na minha perspectiva. Começámos a usar um ritmo mais rápido, mais "thrash", um poder mais pesado É como metal, mas não uma banda típica de metal Talvez estivéssemos chateados com algo, zangados ou tristes ou alguém nos tivesse lixado vou passar isso para o papel, como se fosse imagem de algo que li ou algo em que estava interessado para mostrar como me sentia, apesar de ser uma confusão. Se consegues transferir os teus sentimentos para peças de música e como te sentes, quer seja irritação ou amor, tristeza, qualquer coisa. Isso é o que faz um grande artista, um grande músico. VOU VENDER MUITAS COISAS EM BREVE Muitos dos álbuns, olhando desde os anos 70, são, todos eles, estranhos e obscuros Os discos dos Groundhog, Sir Lord Baltimore, May Blitz, Budgie, Hawkwind... Todos eles estavam em grandes editoras. Actualmente, não seria possível. Estariam todos em editoras Indie e isso deve-se à consolidação e contracção da indústria. Que se lixem as editoras. Fizeram um péssimo trabalho nos últimos 25 anos, não merecem nada Sempre me senti atraído pelo lado negro dos sons e da arte o que, normalmente, conduz a que a música e arte sejam "underground" e independente. Na minha juventude, as pessoas, especialmente os meus pais, sempre me disseram "Tens que tocar o que as pessoas querem ouvir, senão nunca farás dinheiro" Mas não me interessava se fazia dinheiro, porque sempre soube, desde o início, que a minha música era um dom muito especial, mas também uma arte muito especial Estávamos a fazer coisas que eram o oposto e o contrário do mainstream, mas que fosse. Isto era o que fazíamos e o que vamos continuar a fazer Não interessa que não nos torne ricos e famosos, não estamos à procura disso. Ao mesmo tempo, estou a envelhecer e gostava de ter uma casa, gostava de tomar conta e casar com uma rapariga. Pensamos nisso quando envelhecemos Há muito mais carreirismo por causa da inflação e expectativa de ter um estilo de vida seguro Ter dinheiro, um espaço confortável para gravar e suporte para as digressões Não sou contra isso Provavelmente as bandas estão melhor agora numa grande editora, para dizer a verdade não me chatearia muito com isso. Recebes um bom adiantamento e talvez consigas comprar uma casa e depois disso... Quer dizer, isto de tiveres sorte. O meu amigo uma vez chamou-nos de amadores loucos não estávamos activamente a tentar sair em digressão, não estávamos activamente a tentar fazer uma carreira disto. Os meus pais e os do Mario estavam na restauração antes mesmo de termos nascido Mudámo-nos todos para aqui para tentar perceber o que íamos fazer. Eventualmente arranjar um trabalho no restaurante, esperávamos nós, e conseguir continuar a fazer música. Planeei parar de fazer música porque não estava a fazer nenhum dinheiro disso mas tenho que aumentar os meus rendimentos, muito agressivamente, a cada dois anos. Acho que vou vender muitas coisas brevemente Fora da banda, tenho um trabalho a tempo inteiro em pós-produção de filmes e vídeos Arranjámos trabalhos normais, por exemplo, trabalhei numa florista a entregar flores, a ajudar num casamento ou a conduzir uma carrinha pela cidade Estamos a safar-nos muito bem nas digressões, consegues fazer um bom dinheiro especialmente em terras fora das grandes cidades. Mas, pessoalmente, eu continuo a passear cães e o Steve faz alguma ilustração à parte Acho que ainda não chegamos lá, não é sustentável e não nos deixa viver o tipo de vida que gostaríamos, que é um ter telhado, comida... - Pintaste isso? - Sim! - Oh meu Deus, olhem para isto. Nós resolvemos, eu e a minha mulher. Fazia mais sentido ser eu a tomar conta dos miúdos por isso decidimos que eu seria um pai que fica em casa - Esta vai ser a próxima geração. - Esta vai ser a próxima geração. É espantoso. Em vez de estar assustado e dizer "oh não, eles também se vão meter nisto", estou confiante que vão ser eles a tirar-nos daqui Não podíamos viver só da música, estamos falidos - Essa é a verdade - Mas somos felizes. Nós fazemos nove trabalhos se for preciso e se não estivermos em digressão mas temo-nos safado muito bem nas digressões, só a tocar música. - Não há muitos trabalhos em que te deixem trabalhar uma semana ou dez dias e depois podes desaparecer durante meses. - Ninguém me iria contratar. Sabem daquela piado do Bill Hicks, de que falámos há pouco, a piada de "pedrados" que o Bill Hicks fez, que era: Eu posso levantar-me na alvorada, apanhar trânsito, ir para um emprego que odeio, que não me satisfaz criativamente, claro que posso fazer isso! Só um segundo... ou acordar à noite e aprender a tocar a cítara. Normalmente arranjava trabalhos na construção mas hiperestendi o meu joelho por isso tive que sair. Sou ajudante de cozinha e estou a tentar ajudar num bistrô. Não trabalhamos juntos, mas tanto o Bob como eu somos pintores de casas. E temos feito isso desde... Eu faço-o provavelmente desde os meus 20 anos O facto de fazer o que faço é como que sombrio. É muito de estar falido este mês mas continuar Estamos num beco o que é bom porque somos uma loja de discos "underground" e não prestamos atenção a datas de lançamento. O novo dos White Stripes ou outra coisa vamos tê-lo se quisermos e fazemos as coisas nos nossos próprios termos. O dinheiro é papel, eu limpo o rabo com papel não é assim tão essencial para a minha alma, não o podes levar contigo. Se morrer amanhã, grande coisa, terei muito dinheiro que não gastei. Enquanto fazia o Goatsnake, restabeleci contacto com o Steve O'Malley Ele mudou-se para Los Angeles e, basicamente, surgiu-nos o conceito dos Sunn Dois tipos ficarem bêbedos e pedrados e tocarem com o maior número de amplificadores que é possível, a tocar riffs dos Melvins e dos Earth e tentar tocá-los mais devagar. Trabalhar com sons obscuros, num contexto musical e historicamente sempre foi ter a capacidade de meditar ou transcender, uma fase para despertar. Tecnicamente não sou muito bom, não sei fazer um solo. Não sei fazer um solo muito bem, não o sei fazer de todo. Mas eu gostode trabalhar com tons e tons baixos e manipulá-los. Acho que trabalhar com alguns elementos que são mais velhos na música em geral. Acho que a música metal, como a música folk, tem coisas em comum com música de guerra, algo de tribalismo, uma amplificação da energia da música. QUER DETESTEM OU AMEM. Underground já não é underground. Para mim, é o novo "aboveground", por assim dizer são muitas pequenas editoras que se juntaram e formaram uma comunidade. As pessoas agora sabem como lhes aceder e conseguir o material que está na editora. São mais sofisticadas, mais espertas. Elas querem algo diferente. e as grandes editoras não lhes estão a dar isso. Há muitos problemas, é como uma estranha troca. Por um lado as editoras estão a desaparecer, não tens grandes editoras a assinar com bandas, muitas vezes tens que lançar sozinho, mas por outro lado não o podes fazer e ficar com todo o dinheiro e não ir para uma editora ou isso gravar o teu próprio álbum em casa, vendê-lo na internet, esgotar os concertos. São como miúdos numa loja de doces, podem fazer o que quiserem Isso é óptimo. Acho que por serem independentes, permite-lhes fazer isso. Acho que a melhor coisa de lançar agora é que as pessoas estão à procura de novas influências e a tentar incorporar novas coisas e a música está a tornar-se cada vez mais acessível. Toda a música está mais acessível. As pessoas estão a encontrar novas formas de se inspirarem Há muito boca-a-boca e acho que a internet está a ligar esse boca-a-boca. Quando estás numa cidade alemã e as pessoas sabem quem tu és tu pensas: "Como raio sabem?" e foi no computador. Há um movimento ou o quer que seja... As pessoas estão desejosas de fazer alguma música. O rádio e a música comercial são um pesadelo. As tabelas estão dominadas por música urbana: hip hop, country, pop, divas... Haverá sempre uma audiência para heavy rock, mas não o verás no topo das tabelas. Tudo bem. É assim que vai ser. Este tipo de música é muito underground e é o que o torna tão bom Há álbuns que alguns talvez queiram tornar grandes, podem não achar bom mas eu acho, não tenho qualquer desejo de fazer outra coisa Temos de o fazer, não há escolha. Quer as pessoas detestem, quer gostem não faz qualquer diferença. Fazes porque tens que fazer, porque faz sentido na tua realidade faz sentido no teu dia-a-dia, faz sentido no mundo que te rodeia. Eu sei que o que fazemos é completamente diferente daquilo que as massas procuram, mas não acho que seja por não querer apelar às massas. O melhor seria conseguir cativar as massas, mas isso exige uma maior imaginação algo com mais profundidade. Todos os períodos têm os seus visionários e eu acho que algumas das bandas de que temos falado têm esse sentido de quererem estar fora. - Vocês tiveram muito sucesso num curto período de tempo, tocaram em arenas e assim. Estarias interessado nesse estilo de vida? Claro que estaria, mas ainda não aconteceu e não acho que vá acontecer. Não significa que vá desistir. Gosto de pensar que estou, musicalmente, um passo à frente no jogo, só por me manter fiel e fazer aquilo que gosto. E fazê-lo com mestria, sem vergonha e sem arrependimentos do que faço.