"Os Três Corvos"
Canção Popular
Lá ao longe num campo verde
Está um cavaleiro morto debaixo do seu escudo
Os seus cães estão deitados a seus pés
Para guardar o seu dono
Os seus falcões voam tão avidamente
Que ninguém ousa chegar perto
Podem dizer que a música é pesada
pela maneira como soa.
Mas, para mim, vem da experiência
das pessoas que a fazem.
Isso é o que a faz pesada.
Eu prefiro estar pedrado
ou morrer do que viver.
Esse tipo de coisa.
E pode ser a coisa mais pesada do mundo.
Heavy tem a ver com estar zangado
e ser um guerreiro.
É como se estivesses numa batalha,
tivesses um machado e degolasses alguém.
E tens um riff que toca da mesma maneira.
Isso é Heavy.
Quando os Beatles vieram à América
tinham uns amplificadores minúsculos
e não se conseguia ouvir nada
para além de raparigas a gritar.
Isso mudou quando a Marshall,
Laney e Orange
começaram a fazer estes amplificadores
gigantes de alta potência,
que de repente calaram o público.
Uma grande parte da música
Hard Rock do início
está só a tentar perceber o que fazer
com toda esta distorção e volume.
Há coisas que podes fazer com um tom limpo
que são tão maléficas e obscuras
que fazem os Black Sabbath
parecer Peggy Lee.
Levou tempo para perceber
como fugir dessa ideia
de estar só a abanar a cabeça
com cornos de diabo
que na música Heavy Rock
estávamos a fazer cenas estranhas.
Então como é que vamos fazer este som?
Como é que podemos pô-lo num
armário, num espaço pequeno?
Vamos pô-lo num caixão, ver que
tipo de performance vocal conseguimos
e que tipo de tom podemos tirar daqui.
A quinta bemol é muito mais pesada do que...
Sabem o quero dizer?
É terra a terra, é muitas vezes crua e é real.
E quando ficas mesmo tecnicamente profissional
isso suga a alma ao Rock & Roll.
Quando alguém tem mesmo algo para dizer
e eu não digo, necessariamente,
de forma verbal, mas emocionalmente.
Sai da música e acerta-nos em cheio.
Isso é que é música Heavy para mim.
Não tem de necessariamente
ser só guitarras barulhentas,
apesar de eu adorar guitarras barulhentas.
OS BARES NÃO QUERIAM
QUE TOCÁSSEMOS LÁ
Parece que Heavy
e a expressão moderna
é sempre algo que envolve
distorção e volume alto.
Uma espécie de referência
às primeiras bandas Heavy.
Como os Black Sabbath,
Blue Cheer e Led Zeppelin.
Toda a experiência de crescimento
no início dos anos setenta
foi muito tensa e teve muitos problemas
que a indústria de entertenimento
não mencionava.
E definitivamente nem a indústria
da música Pop.
Eu adorava voltar aos anos
setenta e revivê-lo
porque tinhas os Black Sabbath
no seu auge,
tinhas os Captain Beyond
tinhas os Deep Purple no Rock
tinhas os Mountain, os Grand Funk
tinhas os The Stooges
tinhas Atomic Rooster, Dust,
Groundhogs, Stray.
Todas estas bandas incríveis.
Desde 1972 que tem piorado.
Sim, desde que o Volume 4 foi lançado.
Os Sabbath...
ponto de discussão desnecessário.
Eu costumo referir os Hawkwind
porque eles foram uma grande
influência para mim nessa altura.
Durante a altura dos Green River,
eu descobri os Hawkwind.
E tenho estado apaixonado
pelos primeiros quatro ou cinco
álbuns desde essa altura.
Mountain, Zeppelin, Free.
Como todos os miúdos da nossa idade, os Kiss.
Nós tínhamos todos os álbuns
dos The Dictators.
James Gang, Joe Walsh
Neil Young
Leaf Hound
Mahavishnu Orchestra
Giant, Crimson
Alice Cooper foi o primeiro
bom álbum que comprei.
Claro que gosto dos Sabbath,
isso é o óbvio.
Eles conhecem os Sabbath e isso é óptimo,
mas os Sabbath estão batidos.
Muitas das bandas que eu
e o Bobby gostávamos
são o que eu chamo, bandas
de categoria B ou C, como
Dust ou Baltimore.
Sir Lord Baltimore, eu não conhecia estas
bandas até há poucos anos quando as ouvi
e parti-me a rir porque é mesmo excessivo.
Pões este álbuns a tocar
e pensas: "Isto não é
Steely Dan"
mas não é Barracuda,
não é Supertramp.
De certa forma, os Black Sabbath
nunca passavam na rádio,
mas as pessoas iam a concertos.
E acho que era por isso que havia mais dinheiro
para essas bandas que iam em tour.
E podem ficar conhecidos, receber o disco de
platina sem nunca estarem na rádio.
Nos anos 70 havia muito mais
Hard Rock regional.
Havia bandas como os Pentagram
em Washinton D.C.
que não faziam parte do sistema
de grandes gravadoras.
Pentagram foi formada no fim de 1971.
O Bobby foi o primeiro.
Posso já dizer-vos isso.
Bobby Liebling foi o primeiro.
Literalmente, uma noite, eu e o Bobby
estávamos sentados em casa de um amigo
a ficar pedrado, como de costume,
praticamente todas as noites
e dissemos, porque não criamos uma banda
que é exactamente aquilo que queremos fazer?
Durante o tempo em que estive
na banda, de 1971 a 1976,
eu diria que éramos uma banda de Hard Rock.
talvez uma banda de Heavy Hard Rock,
mas não éramos uma banda de Heavy Metal.
Não queríamos tocar em discotecas,
porque as discotecas não nos queriam a tocar lá.
Porque nós não fazíamos covers.
Se ouvirem as canções do Bobby,
elas eram criativas, incrivelmente inventivas
compassos estranhos e assim.
Mas as editoras diziam
que não era certo para a rádio,
não conseguimos vender isto,
não conseguimos ouvir um single.
Nós só queríamos gravar o nosso
próprio material e lançá-lo.
Por isso nós tínhamos vários managers
que se mantiveram ao nosso lado
por vários períodos de tempo.
Que nos levavam aos estúdios,
pagavam pelas sessões
e tentavam arranjar-nos um
contracto de gravação.
E falharam todas as vezes.
A Columbia Records queria o Bobby
e o Bobby conseguiu uma grande audição
em Nova Iorque num grande estúdio.
Essa foi a última gota de água
porque, basicamente, o Bobby arruinou o nosso
contrato de gravação com a Columbia Records.
Nós queríamos melhorar a nossa prestação,
mas o homem que estava a pagar pela nossa sessão,
a Colombia Records, disse não se preocupem
e esse devia ser o fim da discussão.
E o Bobby queria fazer à maneira dele e aí têm,
esse foi o fim da Columbia Records.
O problema foram as drogas
e o Bobby ficou com uma má reputação.
O Bobby esteve sempre a um passo de se
tornar uma estrela de Rock lendária.
Eu não conhecia os Pentagram da
primeira vez que eles apareceram.
Eu acho que os álbuns deles eram
quase impossíveis de encontrar.
E não ouvi sequer falar dos Pentagram até
os álbuns começarem a ser reeditados.
Bobby tinha este material e, acreditem
ou não, mesmo nessa altura
apesar de serem de 8 pistas, às vezes 4,
tinham imensa qualidade.
O Bobby conseguiu um
contrato com a Relapse
e eles queriam criar uma compilação com
muitas das nossas demos dos anos setenta.
As demos que tínhamos gravado em
estúdio com os vários managers.
Eu adorava o material dos Pentagram
dos anos oitenta e noventa
e estou mesmo orgulhoso do Bobby
por ter continuado a banda todos esses anos
porque se ele não tivesse continuado a banda
não estariam a falar comigo neste momento.
A constituição original dos
Pentagram desfez-se em 1976.
Geof O'Keefe e o guitarrista dos Pentagram
Randy Palmer continuam o projecto Bedemon,
que começou em 1973.
Bobby Liebling e novos membros lançaram
álbuns Pentagram, recentemente em 2004.
Nós temos uma estrutura base,
temos o esqueleto mas há tanto por preencher,
essas partes duram cerca
de cinco a dez minutos
e depois improvisamos por
vinte minutos e é sempre diferente.
Existe sempre uma interação
entre nós enquanto tocamos.
Eu costumo chamar-lhe o aceno cósmico.
Eu acho que é uma coisa muito espiritual
especialmente para nós quando
tocamos durante muito tempo.
Dessa maneira conseguimos manter
uma nota durante cinco minutos.
Entregas-te a ela
e isso dá-te tempo para pensar.
Para explorar o que vai na tua mente
quando te entregas ao momento.
Nós falámos sobre isso e pensámos
se deveríamos escrever canções
ou arranjar um vocalista.
E concluímos que gostavamos de como estava.
O Metal nos anos oitenta
tornou-se numa fórmula.
Só têm de olhar para o álbum
Turbo dos Judas Priest
e compará-lo com os Stain Glass ou Sin After Sin
e percebem o que aconteceu à música
nos anos oitenta.
A primeira fase do Hard Rock Psicadélico
acabou quando a droga de eleição
tornou-se a cocaína.
Todos os aspectos negativos
da gravação em estúdio
são amplificados pelo uso de cocaína
pelos engenheiros, produtores, músicos
Havia música com base fórmulas
e produção em estúdio,
e depois havia uma onda
"underground" estranha.
Talvez os Venom,
os Metallica andavam
entre o estilo Punk e Metal.
Eu não me identificava com a onda
do Ozzy Osbourne, Judas Priest.
Não havia Punks a ir a concertos de Metal
e fãs de Metal a ir a concertos Punk.
E depois durante 1984 ou 1985
essa linha de separação ficou menos nítida.
Houve mesmo um momento decisivo
quando The Obsessed foram aceites
pela comunidade Punk.
E isso acontecia quando, por exemplo,
estávamos a tocar num pequeno bar
e o P.A deixou de funcionar.
e em vez de pararmos
tocámos o set inteiro sem o P.A.
A gritar, a tocar com o dobro da velocidade.
Depois disso, o Sam disse "Ok, vou vomitar".
Eu acho que as bandas
Hardcore de D.C.
foram o que me despertou interesse
em bandas como Spring, Void.
Alguém me disse: "Se queres ouvir algo rápido,
ouve D.R.I e C.O.C."
e outras bandas Hardcore do
início dos anos oitenta.
A primeira vez que vimos os Melvins
compreendi que uma banda
podia esvaziar uma sala
ou mudar completamente
a vida de uma pessoa
rapido, rapido, rapido,
e depois os Melvins apareceram
e nós achamos muito fixe
Motorhead deveria ter tido mais crédito.
Eu digo isto, porque
eles foram a primeira banda
híbrida de punk metal
Trouble foram um exemplo perfeito,
os St. Vitus foram um exemplo perfeito.
Até os Black Flag eram. Mas eram tão populares que os fãs estavam dispostos a irem à mesma,
para houvir músicas do My War.
Os Black Flag tocaram
no deserto,
provavelmente em 1981.
O deserto, mesmo agora,
mas mais há 15, 20 anos atrás
era inicialmente uma comunidade
de reformados.
É como um aspirador
de cultura musical
Ninguém se questionava
se iria para LA
Eu nunca fui para L.A.
Se eu fosse para Palm Springs,
era um grande acontecimento.
Não havia nenhuma loja de discos, a vender Maximum Rock'n'roll ou Flip Side
O deserto era tudo
e não era algo que nós
celebrassemos
como se celebraria se fosse hoje.
O deserto é um sitio para os recém-casados
e para os quase mortos.
É mesmo esse tipo de lugar.
As bandas de punk rock
iam chegando
que se estavam a formar.
As primeiras foram os Dead Issue
e os Skabies Babies.
Havia uma banda chamada Dead Issue,
da qual eu fazia parte
que se tornou Across the River
com o Marlow Raollali
Alfredo Hernández, também
fazia parte da banda
Ele tocou nos Kyuss por uns tempos
Queens of the Stone Age
Haviam mais algumas pessoas,
mas eu diria que
o núcleo inicial, como Across the River
eles foram aqueles que
eu me recordo mais vivamente
eles foram um momento de mudança
O pessoal da SST eram
os nossos ídolos,
Black Flag, Meat Puppets,
Minutemen, October Faction
Aqui há pimentos
algum tipo de Pimentão Banana
estes são pimentões Thay Dragon
quando ficam vermelhos
ficam mesmo muito picantes
O que é doom?
Primeiro a minha percepção
do estilo de música
que nós queremos chamar doom.
É como eu disse antes,
é como um intestino.
É um puxão real,
visceral, emocional.
Algo que te fará chorar.
Quando pensei e comecei a
dizer concretamente
"estou numa banda de doom"
foi definitivamente com Saint Vitus.
Tivemos alguns
concertos com Saint Vitus
quando tinham o antigo
vocalista, o Scott Reagers
Depois eles arranjaram outro tipo,
o Wino
o primeiro concerto dele foi
no meu 21º aniversário, em 1986
num centro comunitário
em Palm Desert
os D.R.I, Saint Vitus,
e Across the River
Sempre pareceu que os Across the River
eram algo de especial
Temos álbuns desde
os Mountain a Black Sabbath
os primeiros dos Mettalica
todo o tipo de coisas
Estávamos a misturar isso com
o sentimento que vinha do punk rock.
As colunas a derreter à tua frente,
adoro esse som, então
voltamos atrás e em vez de...
Era mais lento, mais calmo,
volume, saturação, blues.
Eles alienaram-se...
desse jogo de ritmos rápidos, e abusar nos riffs,
toda a cena do punk metal
Eles passaram isso à frente,
diretamente para o rock.
Ninguém estava a fazer o mesmo.
No fim de Across the River, os
Soundgarden estavam a começar
a atrair multidões em Seattle.
E eles eram mesmo parte dos SST
O mesmo tipo de coisa que se estava a
desenvolver lá, estava a desenvolver-se cá.
Toda a gente me conhecia como
o vocalista de Saint Vitus
mas ninguém sabia
que eu tocava guitarra.
Houve uma situação engraçada,
acho que foi o Scott Mars
da banda Across the River,
Improvisámos numa festa perto
de Ventura, junto à praia,
eu estava a tocar bateria,
ele estava a tocar guitarra,
eu não sabia que ele tocava,
o Mario Lalli estava a tocar baixo
Fizemos este improviso louco
e depois foi tipo,
"Temos de formar uma banda
um dia destes"
Apanhei o Scott e concordamos
formar The Obsessed
Foi o que fizemos, era eu,
o Scott Reeder e o Greg Rogers
Depois de alguns problemas
aqui e ali,
o Scott Reeder saiu para
se juntar aos Kyuss
foi basicamente quando
os Kyuss se popularizaram.
Eles eram a única banda
em tourné no deserto
Foram eles que começaram
a perpetuar o nosso universo lá fora.
Se houvesse uma espécie de
molde para o desert rock, seriam eles.
Tipos como o Mario Lalli e Kyuss
deram o passo seguinte ao...
Não apenas ao dizer,
"Somos do deserto por isso se calhar
não sabemos o que é fixe noutros sítios"
mas em vez disso eles
levaram isso a sério e disseram
Não só vamos rejeitar o que é fixe,
como vamos rejeitar as massas ao
mesmo tempo, vamos rejeitar tudo.
Detesto dizê-lo, mas a maioria
começou a fumar erva.
Levas um grupo de miudos
a explorar música agressiva,
ainda por cima punk hardcore
e eles começam a fumar,
coisas interessantes acabam por acontecer.
Isso é música interessante.
O que aconteceu com os
The Obsessed foi seguir para o thrash
os Slayer e esse tipo de música
tinham uma dimensão muito grande
Foi isso que os anos 80 se tornaram
ou eras uma banda de glam metal
ou eras uma banda de thrash metal
Se alguém merecia ser uma
estrela de rock, era aquele tipo.
Isto é o paraíso.
Estás destinado a ser o
perdedor, não há saída.
Tens simplesmente de estar lá.
As pessoas vão gostar
de ti porque ficaste dessa maneira,
manténs-te firme, e nunca
páras de tocar aquilo que tocas.
Com Guy Pinhas no baixo,
os The Obsessed lançaram
"The Church Within", na
Columbia Records, em 1994.
Quando a Columbia lhes pediu
uma audição para se manterem
na editora, eles acabaram.
Desde então o Wino tem estado
com os Spirit Caravan
e The Hidden Hand.
Os Kyuss acabaram em 1995.
O guitarrista Josh Homme
e o baterista Alfredo Hernandez
formaram os Queens of Stone Age
com o baixista original dos Kyuss,
Nick Oliveri.
O Scoot Reeder tocou em Goatsnake
e Unida e foi convidado para
uma audição com os Metallica.
Actualmente é produtor e artista a solo.
Formámos os Comets em 1999
o Ben Flashman e eu formamos
o grupo em Santa Cruz, Califórnia
Nós estávamos na onda
do anthemic rock
Grand Funk e algum punk rock.
Alguns velhos favoritos
e coisas desse género
Estávamos a começar
a experimentar mais.
Como Free Jazz, Coltrane...
Não é só um sintetizador
que faz sons engraçados
Não, é de efeitos.
Então podes pôr o efeito
do sintetizador no teu...
A nossa missão original era tentar
juntar aquelas duas coisas diferentes
que normalmente não
ficam bem juntas.
Definitivamente tornámos isto em
algo mais que um som psicadélico.
Tentámos fazer mais do
que um tributo ou stoner rock.
Se somos uma banda
psicadélica? Sim!
No tempo dos Kuyss o termo
stoner rock não existia
era "seguidor de Metal",
que era meio ofensivo para nós
Para ser honesto nunca me preocupei
com classificações pessoais como essas.
Se as pessoas perguntassem que
tipo de banda eram os Goatsnake
eu diria simplesmente que
é uma banda de rock pesado
Não podiam chamar grunge
Não podiam chamar metal
Não podiam chamar punk,
por isso tinham de inventar um nome
Hoje em dia
é só hard rock normal.
O termo stoner rock é um entrave
para aqueles que não ficam pedrados,
porque funciona como uma desculpa
para desprezarem a música
Hoje em dia, quando dizes stoner rock
sabes exactamente o que isso significa,
são guitarras com distorção,
riffs gigantescos,
é melódico, até certo ponto.
Mas ecoa o rock clássico.
Sempre disse que stoner
rock é só grunge,
e realmente ambos são a
continuação do rock dos anos 70.
Monster Magnet abriu para os Kyuss.
Estávamos a fazer algo entre 93 e 94,
afastado do grunge, era mais sombrio,
mais pesado e estranho.
Mas quando estavamos a ficar conhecidos
as bandas estavam a mudar.
Os Nebula estavam a mudar,
os Queens of the Stone Age
estavam a mudar,
e continuavam a tentar
chamá-lo de stoner rock.
Há toda a questão da
revista Musician perguntar...
Qual é o equipamento que estão a usar?
Como está a ser gravado?
Não vamos usar equipamento digital.
Vamos usar amplificadores de válvulas
e esse tipo de coisas.
Eu não estava ligada ao movimento do deserto
enquanto esta estava a acontecer.
Fizémo-lo depois de Man's Ruin,
porque estávamos na mesma editora juntos.
Acho que se pode dizer
que os albuns da Man's Ruin Records,
são responsáveis por introduzir
as pessoas a muitas destas músicas.
Eu acabei por cobrir muitas
destas bandas para a primeira edição,
porque estava a fazer uma espécie
de cobertura da Man's Ruin.
Esse género de música
que é descrito como stoner rock,
que é a definição infeliz
com que ficaram.
Depois disso, houve uma afluência
gigantesca de bandas,
como que a copiar
esse som.
Não tenho a certeza de
onde veio esse termo
para ser honesto
eu não pesquisei,
assumo que seja só por causa
da música passar pelo improviso,
detesto usar orgânico,
mas vou, orgânico.
Não sei, o que é stoner
rock? Diz-me tu!
Os Fatso Jetson vieram de um
bar de rock que eu e o Larry abrimos.
É o resultado de estar farto
de ser apanhado em festas
e saber que somos
capazes de fazê-lo sozinhos.
Começámos em 1994,
eramos fãs dos Black Flag.
Eram uma inspiração
para todos nós
e pensámos "hey, vamos
mandar-nos de cabeça"
e fizémo-lo. Tocámos,
foi o nosso primeiro concerto
e acho que o Greg gostou
do que nós fizemos,
e ofereceu-se para lançar
um CD por nós no SSK.
Os blues para mim, a crueza
e a honestidade presente,
é similar às coisas
que aprecio no punk rock.
Não é anormal para mim, na
a mesma canção encontrar
Howlin' Wolf, Black Flag,
Link Wray e Devo
É muito primitivo.
Pomos os nossos discos
onde tocamos
e depois esse som
é mesmo puro.
Fazemo-lo, sob os
nossos próprios termos
e não é uma questão
de sobrevivência.
É uma questão
de desejo de vida.
Lembro-me da cena
em San Francisco, nos anos 90,
ser os Sleep, Neurosis,
The Melvins.
Havia muitas coisas
boas a surgir,
como Neurosis, que era
o mais importante por aqui,
Neurosis e The Melvins,
era o centro de tudo.
Comecei a tocar com
uma banda no secundário,
com o Al e o Chris que
estão nos Om actualmente.
Eles tinham esta banda,
os Asbestosdeath.
Eles queriam mesmo
estar numa banda
provavelmente uma reacção
à miséria da vida.
Não sei, havia uma amizade
e de um modo geral
eram mesmo bons amigos.
A música surgiu daí.
Eu e o Al estávamos sentados
sobre o efeito de LSD,
a fumar e assim,
e o Al lembrou-se do nome Sleep
e eu disse "Wow, isso é um grande nome".
Era mais do que ver um concerto,
era viver uma experiência com... Sabes?
Pregar-te pelo teu
próprio centro.
Tinham este massivo...
Nunca vi nada assim!
É como... Vermelho, verde,
azul, Sleep.
Eles lançaram dois albuns,
Volume 1 e Holy Mountain
Depois assinaram com uma major,
a London Records.
Não tenho a certeza se a London
Records sabia o que estava a assinar,
porque os Sleep estavam a
planear as suas obras-primas
Uma canção de 52 minutos.
Jerusalem, acho que originalmente
se chamava Dopesmoker.
As letras incorporam
esta espécie de...
caravana de drogas
para a terra sagrada.
Foram 5 anos em que a
música se desenvolveu.
Tinham tudo escrito e ficaram
presos com editoras,
Estavam basicamente
sentados com isto pronto,
e estavam basicamente
a morrer na praia.
Queriam tirá-lo dali e não podiam,
tiveram de esperar um ano só para gravar.
Por um período de pelo menos 2 anos
recusaram-se a tocar isso ao vivo,
porque estavam convictos de
ainda não deixar as pessoas ouvirem.
Tentámos travar a música
e foi tão estranho,
como se fosse suposto
seguir em frente...
Estávamos a tentar descobrir
como voltar a pôr os pés na terra,
como aterrar.
Às vezes o riff é tão bom
que só queremos ouvi-lo
uma vez, e outra, e outra.
Às vezes por 52 minutos!
Tanto quanto sei a London sempre
soube dos planos deles para a canção.
Começou com esta escala
de música estranha, quase indiana
O intuito era transmitir que a banda
estava em hipnose enquanto tocava
O baterista carrega essa música.
Toda a canção é baseada na bateria
e nos tempos, e bater no sítio certo.
Há muito mitos e lendas sobre
a maneira como Jerusalem foi feito.
Algumas coisa podem
não ser mitologia.
O maior deles é que eles
gastaram o dinheiro adiantado com erva?
Bem, a parte da erva
é totalmente verdade
Queimamos muito dinheiro
e tempo em erva?
Entregar a master
a outra editora.
Tinha sido uma boa ideia quem me
dera que nos tivéssemos lembrado disso.
Passámos por aquela que é a coisa
mais pesada alguma vez gravada.
Não se olhava a despesa,
para acrescentar alguma coisa.
"Queres adicionar outra guitarra
vamos fazer isso...
Vamos pôr mais duas."
Gastámos 75.000 dólares
em amplificadores.
Em amplificadores costumizados, guitarras,
todo o tipo de coisas.
As canções, não só sonoramente
mas se seguires as letras
é uma caravana
a entregar erva.
Usámos longsman? e
haxixe na mesma linha.
Como é que se faz isto?
Entregámos aquilo à editora,
eles ouviram e depois estavam tipo:
"Isto é muito pesado, não há
nada que possamos fazer com isto"
"É muito isto, muito aquilo"
E alguém na editora, não sei quem,
meteu na cabeça que se alguém
a remisturasse ficaria diferente.
Tens uma banda com uma música
de 60 minutos, o que esperavas? Rádio?
O album foi metido na gaveta e só saiu
3 anos depois de ter sido gravado
O que acabou por ser 2 anos e meio
depois dos Sleep acabarem.
E acabou por tornar-se...
Em parte porque era fantástico,
mas em parte por causa
dos mitos à sua volta,
passou a ser visto
como um clássico.
Um clássico perdido, mesmo.
Algum tempo depois
de se fazer a remistura.
eles decidiram não
continuar a ser uma banda.
Isso foi em 97.
Por volta de 2001 ou 2002,
o Matt Pike dos High on Fire que também era dos Sleep,
o manager dele, o Tod,
perguntou-me se eu queria
fazer a versão original desse album
que era Dopesmoker, que era a versão
completa, não editada, não misturada
Não misturada pelo Sardy, que eles
arranjaram para tentar melhorar,
obviamente eles não
estavam contentes com isso.
Eles perguntaram se eu o queria
fazer e eu disse "absolutamente".
Eu gosto dessa versão
de Dopsmoker,
porque era um bocadinho maior
e foi a mistura que fizemos com o Billy,
Mais ninguém da editora
veio e cortou tudo.
Acho que nós os três
fizemos as pazes com a canção
que sabemos que
existe cá dentro,
versus o que anda por aí e
as pessoas pensam que significa.
E acho que foi a maneira de
continuarmos e deixarmos isso em paz.
Foi aquela espécie
de batalha milenar
entre o que é arte e o que
as editoras pensam que é produto.
Vocês estranharam-se por
um tempo, depois dos Sleep?
Sim. Mais ou menos.
Todos nós... Houve muita dor.
Não sabíamos exactamente
o que dizer uns aos outros
Ainda havia amor...
Havia amor, ódio e confusão.
Só tivemos de lidar com
isso durante um tempo.
Eu não falei com o Chris
durante alguns anos,
depois de toda a cena
do Dopesmoker
e o Al... Foi uma coisa triste,
o Al deixou de tocar música,
durante 5 anos.
Eu diria que deixou mesmo de tocar,
só não era muito público em relação
a ver alguém, ou estar
numa banda, coisas assim.
Acho que os Sleep foram quase
a essência desta espécie de reavivar
que começou a acontecer
nos anos 90
daquilo que foi chamado
de stoner rock ou doom, ou assim.
Eles apanharam o que os
Saint Vitus estavam a fazer
e os The Melvins, Black
Sabbath, claro.
Mas acho que eles
acertaram em cheio.
Pode quase dizer-se que o conseguiram,
ao fazerem dois dos melhores álbuns
que precisavam de ser feitos
naquele género.
Eles determinaram,
desde o primeiro ensaio que tivemos.
Não era necessário mais nenhum elemento, para
o que estávamos a fazer
não era preciso utilizar
uma estrutura tradicional.
Usar uma guitarra, para encaixar
num tipo de som estabelecido.
Há momentos em que estou
parado e tenho que transformar
as emoções em palavras
que sirvam não só propósitos simbólicos,
mas, num nível muito prático,
propósitos ritmicos.
Tenho a certeza que
não são combinadas
de acordo com
a sonoridade gramatical.
Às vezes as pessoas dizem:
"Sabes outro riff?"
ou "Presta atenção,
são todos muito..."
As repetições que fazemos também...
Há coisas em tantos albuns antigos
que ouvíamos e crescemos
a apreciar,
e há alguns segmentos
nestas canções,
e nós dissemos "porque é que
isto não se repete mais?"
E às vezes gostava que isso
continuasse por 14 ou 15 minutos.
As drogas podem mesmo
fazer-te escrever uma canção
ou fazer qualquer coisa, se houver
alguma coisa que te impeça.
- É como se ficasses mais concentrado.
- Acalmasses, e teres as coisas feitas.
Tem alguma coisa a ver
com ouvir. Tocar não, mas ouvir.
Uma coisa que resulta comigo é
usá-las como uma ferramenta de verificação.
O sentido de estilo musical
é parte da tua mente.
As plantas estão vivas e sinto
que estive a comunicar com elas
através disto. Se há uma maneira
de comunicar entre espécies
então é provavelmente isto.
Ao aumentar a percepção vês
as coisas ligeiramente diferentes,
e de certa forma é bom,
mas não é necessário.
No final não é isso que é importante.
É uma parte essencial
naquilo que fazemos
Isto não vai ficar no filme?
Pode ser pela viagem,
a ideia de viajar até
outros domínios,
mas isso pode incluir tomar drogas,
mas não está limitado a tomar drogas.
Pessoas como o H. P. Lovecraft,
Lord Dunsany, Clark Ashton Smith,
todos estes escritores dos anos 30,
e do virar do século,
que eram mesmo imaginativos.
Especialmente quando os tempos se tornam
mais pesados ou politicamente penosos,
tipicamente vês mais fantasia,
vês mais artistas idealistas,
nas suas fantasias pessoais.
É preciso motivação e
dedicação para escrever canções
e ir para o estudio e dedicar a tua
vida a fazer música com a banda.
Não acho que os que drogados
normais consigam chegar tão longe.
Todos nós crescemos
fora da cidade,
o Steve e eu crescemos
na Virginia
mas há aquele momento em que percebes
quanta música vem de Washington DC
e toda a cena punk
com os Fugazi
e toda aquela música que estava
a surgir nos anos 80.
Nós estávamos nesse tipo
de bandas por um tempo
e precisávamos de voltar ao que
inicialmente nos entusiasmou na música
e bandas como
Led Zeppelin e Black Sabbath.
Bandas relaxadas,
com boa vibração
que de certa forma
não se pareciam importar.
Estamos aqui a gravar
o nosso quinto disco,
no Sunset Sound, estudios lendários
na Sunset Strip.
Fala-se muito em bandas que
estão a fazer rock clássico,
o que nos leva a pensar,
se estamos a regressar às bases do rock.
Todos os nossos albuns antigos
estavam carregados de diferentes
atmosferas e efeitos, e agora estamos
a tentar captar mais a performance.
A espontaneidade, mais direto.
Acho que muita da música que escrevo
é a pensar em imagens
como floresta, oceano, estrelas, andar...
Mau tempo ou... sabes...
grandes árvores maciças ou falésias ou...
É definitivamente uma relação
com a Natureza.
As árvores são tão bonitas
que te fazem sentir feliz
e elas parecem tão antigas,
com tanta história para contar
Sim, definitivamente, há um elemento
na nossa música que envolve a natureza
e espiritualidade, suponho.
E essas são as coisas mais importantes.
A minha mãe gostava
de ilustrar coisas da natureza
Ela desenhava cogumelos, plantas e flores...
Isso era o que me rodeava em criança
e acho essas coisas realmente inspiradoras.
O som e a visão são muito similares
e sempre tiveram uma relação
um com o outro, para mim.
Quer seja a ver um músico tocar ou ouvir um
álbum e olhar para o trabalho artístico
O que fez com que os posters voltassem atrás
em termos de estilo,
acho que é a rejeição da arte corporativa e do
modo corporativo de encarar as bandas.
Eu sento-me, com headphones,
e concentro-me realmente.
Ouço, fecho os olhos e concentro-me para ver
o que acontece, se alguma coisa vem até mim.
Eu não gostava de nenhuma
imagética musical dos anos 90
Não me interessava. Vampiras, personagens com
cabeças grandes... Não é o meu estilo.
Faço muito horizontes e céus
porque para mim representa
toda uma série de possibilidades infinitas.
O lugar onde o céu encontra o oceano,
sempre vi isso como uma espécie
de portal ou uma entrada
para mais alguma coisa.
Comparando a arte que tem por base
a música psicadélica,
acho que é algo extraordinariamente criativo.
Alguns dos álbuns em que trabalhei,
tentei torná-los criativos a vários níveis.
Eu penso que a psicadelia de Malleus é a nossa
habilidade de desenhar e interpretar as mulheres
Nunca há uma "doce figura materna".
Vejo a mulher que fazemos
como uma rapariga perversa.
A imaginação é a melhor droga no mundo
Estava mesmo numa de hipnose, ainda estou.
Estes designers de Inglaterra
fizeram muitas coisas
como capas para Dark Side of the Moon,
Led Zeppelin
muitas outras coisas
significativas e reconhecíveis.
E o Roger Dean, claro...
A imagem fala por si própria, mas eu gosto muito
de letras e da estética da palavra
Isto são algumas das coisas que
tenho feito ultimamente.
Fiz estas nas últimas semanas.
Isto é o calendário deste ano
e isto é o próximo álbum
dos Residual Echoes
Como estava a pensar de forma muito abstrata,
acabou por resultar
foi muito detalhado e acho que se tornou
numa nova forma de piscadelia
que não fosse do tipo "flower power",
mas algo mais agressivo
Acabou por ser a forma
apocalíptica da piscadelia
Acho a palavra psicadelia muito interessante
e acho que as coisas que eu faço são sempre
psicadélicas em determinado aspecto visionário
Esteticamente, tem mais em comum
com desenho técnico
ou desenho arquitectónico.
Quando algo tem um som muito, muito grande,
parece-me sempre algo muito vasto
este espaço em aberto,
com nuvens e penhascos...
quando é algo lento e pesado,
é o que vejo.
O que vejo de música mais rápida
como os High on Fire
é mais imagética
que acelera o coração
O primeiro álbum,
The Art of Self Defense
tinha uma onda dos Sleep,
mas eu estava a mudar o meu estilo
Quando tocava com os Sleep,
usávamos tempos mais rápidos
mas olhando agora para trás era meio lento,
porque estávamos na procura de um novo eu
Eu estava à procura do eu guitarrista
e estava a começar a cantar.
Isso era tudo novo para mim.
Pode perceber-se a influência de estar a sair
daquela banda,
pelo menos na minha perspectiva.
Começámos a usar um ritmo mais rápido,
mais "thrash", um poder mais pesado
É como metal, mas não uma banda
típica de metal
Talvez estivéssemos chateados com algo,
zangados ou tristes ou alguém nos tivesse lixado
vou passar isso para o papel,
como se fosse imagem de algo que li
ou algo em que estava interessado para mostrar
como me sentia, apesar de ser uma confusão.
Se consegues transferir os teus sentimentos
para peças de música
e como te sentes, quer seja irritação ou amor,
tristeza, qualquer coisa.
Isso é o que faz um grande artista,
um grande músico.
VOU VENDER
MUITAS COISAS EM BREVE
Muitos dos álbuns, olhando desde os anos 70,
são, todos eles, estranhos e obscuros
Os discos dos Groundhog,
Sir Lord Baltimore, May Blitz,
Budgie, Hawkwind...
Todos eles estavam em grandes editoras.
Actualmente, não seria possível.
Estariam todos em editoras Indie e isso deve-se à consolidação e contracção da indústria.
Que se lixem as editoras. Fizeram um péssimo
trabalho nos últimos 25 anos, não merecem nada
Sempre me senti atraído
pelo lado negro dos sons e da arte
o que, normalmente, conduz a que a música e
arte sejam "underground" e independente.
Na minha juventude, as pessoas, especialmente
os meus pais, sempre me disseram
"Tens que tocar o que as pessoas querem ouvir,
senão nunca farás dinheiro"
Mas não me interessava se fazia dinheiro,
porque sempre soube, desde o início,
que a minha música era um dom muito especial,
mas também uma arte muito especial
Estávamos a fazer coisas que eram o oposto e o
contrário do mainstream, mas que fosse.
Isto era o que fazíamos
e o que vamos continuar a fazer
Não interessa que não nos torne ricos
e famosos, não estamos à procura disso.
Ao mesmo tempo, estou a envelhecer
e gostava de ter uma casa,
gostava de tomar conta e casar com uma rapariga.
Pensamos nisso quando envelhecemos
Há muito mais carreirismo por causa da inflação
e expectativa de ter um estilo de vida seguro
Ter dinheiro, um espaço confortável
para gravar e suporte para as digressões
Não sou contra isso
Provavelmente as bandas estão melhor agora
numa grande editora, para dizer a verdade
não me chatearia muito com isso. Recebes um
bom adiantamento e talvez consigas comprar
uma casa e depois disso...
Quer dizer, isto de tiveres sorte.
O meu amigo uma vez
chamou-nos de amadores loucos
não estávamos
activamente a tentar sair em digressão,
não estávamos activamente
a tentar fazer uma carreira disto.
Os meus pais e os do Mario estavam na
restauração antes mesmo de termos nascido
Mudámo-nos todos para aqui para tentar
perceber o que íamos fazer.
Eventualmente arranjar um trabalho
no restaurante, esperávamos nós,
e conseguir continuar a fazer música.
Planeei parar de fazer música porque
não estava a fazer nenhum dinheiro disso
mas tenho que aumentar os meus rendimentos,
muito agressivamente, a cada dois anos.
Acho que vou vender
muitas coisas brevemente
Fora da banda, tenho um trabalho a tempo
inteiro em pós-produção de filmes e vídeos
Arranjámos trabalhos normais, por exemplo,
trabalhei numa florista
a entregar flores, a ajudar num casamento ou a
conduzir uma carrinha pela cidade
Estamos a safar-nos muito bem nas digressões,
consegues fazer um bom dinheiro
especialmente em terras
fora das grandes cidades.
Mas, pessoalmente, eu continuo a passear cães
e o Steve faz alguma ilustração à parte
Acho que ainda não chegamos lá,
não é sustentável e não nos deixa
viver o tipo de vida que gostaríamos,
que é um ter telhado, comida...
- Pintaste isso?
- Sim!
- Oh meu Deus, olhem para isto.
Nós resolvemos, eu e a minha mulher.
Fazia mais sentido ser eu
a tomar conta dos miúdos
por isso decidimos que eu seria
um pai que fica em casa
- Esta vai ser a próxima geração.
- Esta vai ser a próxima geração. É espantoso.
Em vez de estar assustado e dizer
"oh não, eles também se vão meter nisto",
estou confiante que vão ser eles a tirar-nos daqui
Não podíamos viver só da música,
estamos falidos
- Essa é a verdade
- Mas somos felizes.
Nós fazemos nove trabalhos se for preciso
e se não estivermos em digressão
mas temo-nos safado muito bem nas digressões,
só a tocar música.
- Não há muitos trabalhos em que
te deixem trabalhar uma semana
ou dez dias e depois podes
desaparecer durante meses.
- Ninguém me iria contratar.
Sabem daquela piado do Bill Hicks,
de que falámos há pouco,
a piada de "pedrados"
que o Bill Hicks fez, que era:
Eu posso levantar-me na alvorada,
apanhar trânsito,
ir para um emprego que odeio,
que não me satisfaz criativamente,
claro que posso fazer isso!
Só um segundo...
ou acordar à noite
e aprender a tocar a cítara.
Normalmente arranjava trabalhos
na construção mas hiperestendi o meu joelho
por isso tive que sair. Sou ajudante de cozinha
e estou a tentar ajudar num bistrô.
Não trabalhamos juntos, mas tanto o Bob
como eu somos pintores de casas.
E temos feito isso desde... Eu faço-o
provavelmente desde os meus 20 anos
O facto de fazer o que faço é como que sombrio.
É muito de estar falido este mês mas continuar
Estamos num beco o que é bom porque somos
uma loja de discos "underground"
e não prestamos atenção a datas de lançamento.
O novo dos White Stripes ou outra coisa
vamos tê-lo se quisermos e fazemos as coisas
nos nossos próprios termos.
O dinheiro é papel, eu limpo o rabo com papel
não é assim tão essencial para a minha alma,
não o podes levar contigo.
Se morrer amanhã, grande coisa,
terei muito dinheiro que não gastei.
Enquanto fazia o Goatsnake, restabeleci
contacto com o Steve O'Malley
Ele mudou-se para Los Angeles e, basicamente,
surgiu-nos o conceito dos Sunn
Dois tipos ficarem bêbedos e pedrados
e tocarem com o maior número
de amplificadores que é possível,
a tocar riffs dos Melvins e dos Earth
e tentar tocá-los mais devagar.
Trabalhar com sons obscuros, num contexto
musical e historicamente
sempre foi ter a capacidade de meditar ou
transcender, uma fase para despertar.
Tecnicamente não sou muito bom,
não sei fazer um solo.
Não sei fazer um solo muito bem,
não o sei fazer de todo.
Mas eu gostode trabalhar com tons
e tons baixos e manipulá-los.
Acho que trabalhar com alguns elementos que
são mais velhos na música em geral.
Acho que a música metal, como a música folk,
tem coisas em comum
com música de guerra, algo de tribalismo, uma
amplificação da energia da música.
QUER DETESTEM OU AMEM.
Underground já não é underground. Para mim,
é o novo "aboveground", por assim dizer
são muitas pequenas editoras que se juntaram
e formaram uma comunidade.
As pessoas agora sabem como lhes aceder e
conseguir o material que está na editora.
São mais sofisticadas, mais espertas.
Elas querem algo diferente.
e as grandes editoras
não lhes estão a dar isso.
Há muitos problemas,
é como uma estranha troca.
Por um lado as editoras estão a desaparecer,
não tens grandes editoras a assinar com bandas,
muitas vezes tens que lançar sozinho,
mas por outro lado não o podes fazer
e ficar com todo o dinheiro
e não ir para uma editora ou isso
gravar o teu próprio álbum em casa, vendê-lo na
internet, esgotar os concertos.
São como miúdos numa loja de doces,
podem fazer o que quiserem
Isso é óptimo. Acho que por serem
independentes, permite-lhes fazer isso.
Acho que a melhor coisa de lançar agora é que
as pessoas estão à procura de novas influências
e a tentar incorporar novas coisas e a música
está a tornar-se cada vez mais acessível.
Toda a música está mais acessível.
As pessoas estão a encontrar
novas formas de se inspirarem
Há muito boca-a-boca e acho que a internet
está a ligar esse boca-a-boca.
Quando estás numa cidade alemã
e as pessoas sabem quem tu és
tu pensas: "Como raio
sabem?" e foi no computador.
Há um movimento ou o quer que seja...
As pessoas estão desejosas
de fazer alguma música.
O rádio e a música comercial
são um pesadelo.
As tabelas estão dominadas por música urbana:
hip hop, country, pop, divas...
Haverá sempre uma audiência para heavy rock,
mas não o verás no topo das tabelas.
Tudo bem.
É assim que vai ser. Este tipo de música é muito
underground e é o que o torna tão bom
Há álbuns que alguns talvez queiram tornar
grandes, podem não achar bom
mas eu acho, não tenho qualquer
desejo de fazer outra coisa
Temos de o fazer, não há escolha.
Quer as pessoas detestem, quer gostem
não faz qualquer diferença. Fazes porque tens
que fazer, porque faz sentido na tua realidade
faz sentido no teu dia-a-dia,
faz sentido no mundo que te rodeia.
Eu sei que o que fazemos é completamente
diferente daquilo que as massas procuram,
mas não acho que seja
por não querer apelar às massas.
O melhor seria conseguir cativar as massas,
mas isso exige uma maior imaginação
algo com mais profundidade.
Todos os períodos têm os seus visionários
e eu acho que algumas das bandas
de que temos falado têm esse sentido de
quererem estar fora.
- Vocês tiveram muito sucesso num curto
período de tempo, tocaram em arenas e assim.
Estarias interessado nesse estilo de vida?
Claro que estaria, mas ainda não aconteceu
e não acho que vá acontecer.
Não significa que vá desistir.
Gosto de pensar que estou, musicalmente,
um passo à frente no jogo,
só por me manter fiel e fazer aquilo que gosto.
E fazê-lo com mestria, sem vergonha
e sem arrependimentos do que faço.