Ele é Marcos, de Barcelona. Porém poderia ser qualquer um, em qualquer outra parte. Vai se encontrar com algo que ocorre todos os dias, em diversos escritórios e lares do mundo. Uma peça da impressora falhou... e o fabricante Ihe recomenda levá-la a uma autorizada. Meu técnico fez um diagnóstico prévio porém isso custa 15 euros mais impostos Será difícil encontrar as peças para poder consertá-la Realmente, consertá-la não lhe vai sair muito barato... Consertá-la custará uns 110 ou 120 euros. Têm impressoras a partir de 39 euros Eu te aconselharia a olhar impressoras novas. Sem dúvida eu compraria uma nova. Não é casualidade que os três vendedores sugiram comprar uma nova impressora. Caso aceite, Marcos será uma nova vítima da "obsolescência programada"... o motor secreto de nossa sociedade de consumo. Nosso papel parece limitar-se a pedir empréstimos e comprar coisas que não necessitamos. Nossa sociedade está dominada por uma economia de crescimento cuja lógica não é crescer para satisfazer as necessidades, senão crescer por crescer. Se as pessoas não compram, a economia não cresce. Obsolescência Programada o desejo do consumidor de possuir algo um pouco mais novo, um pouco antes do necessário. Neste documentário, revelaremos como a obsolescência programada definiu nossas vidas desde os anos 20 quando os fabricantes começaram a diminuir a vida útil dos produtos para aumentar as vendas Assim que reduziram a vida útil a 1.000 horas. Descobriremos que designers e engenheiros se viram forçados a adotar novos valores e objetivos. Tiveram que começar de novo para criar algo mais frágil. Está calculado! Termina de pagar algo, e já não serve. Usar e jogar fora! Conheceremos uma nova geração de consumidores que está indo na direção contrária dos fabricantes. É viável uma economia sem Obsolescência Programada? E sem seu impacto sobre o meio-ambiente? A posteridade não nos perdoará. Descobrirão o estilo de vida desperdiçador dos países avançados... Comprar, jogar fora, comprar: A história secreta da Obsolescência Programada. Bem-vindos a Livermore, Califórnia, lar da lâmpada mais antiga do mundo. Sou Lynn Owens, presidente do Comitê da Lâmpada. Em 1972 descobrimos que uma lâmpada do corpo de bombeiros era uma lâmpada importante. A lâmpada de Livermore está funcionando ininterruptamente desde 1901. No atual momento, já se compraram duas webcams, e a lâmpada já vai para a terceira webcam. em 2001, quando a lâmpada chegou a um século, Livermore organizou uma grande festa de aniversário, ao estilo americano. Esperávamos umas 200 pessoas, mas no fim vieram umas 800 ou 900. Imagina cantar feliz aniversário para uma lâmpada? Bem... Nós também não, mas cantaram. A origem da lâmpada... Fabricaram-na em Shelby, Ohio, em cerca de 1895. ...montaram-na estas interessantes damas e alguns cavalheiros, acionistas da Companhia. O filamento é uma invenção de Adolphe Chaillet. Inventou esse filamento para que durasse. Por que dura tanto? Não sei. O segredo de como fez se foi com ele para o túmulo. A fórmula para um filamento de longa duração não é o único mistério na história das lâmpadas. Um segredo muito maior é como e porquê este humilde produto se tornou na primeira vítima da Obsolescência Programada. O dia de Natal de 1924 foi um dia especial. Em genebra, vários cavalheiros bem vestidos se reuniram com um plano secreto. Criaram o primeiro cartel mundial para controlar a produção de lâmpadas e dividirem o bolo do mercado mundial. O cartel se chamou Phoebus. Phoebus incluía os principais fabricantes de lâmpadas da Europa e dos EUA, inclusive de longínquas colónias na Ásia e na África. O objetivo era intercambiar patentes, controlar a produção e, sobretudo, controlar o consumidor. Queriam que as pessoas comprassem lâmpadas com regularidade. Se as lâmpadas durassem muito, era uma desvantagem económica. No início, a meta dos fabricantes era uma longa duração para suas lâmpadas. Em 21 de outubro de 1871, numerosos experimentos deram como resultado uma pequena lâmpada de enorme resistência, com um filamento de grande estabilidade. Em 1881, Edison pós à venda sua primeira lâmpada. Durava 1.500 horas. Em 1924, quando se fundou o cartel Phoebus, se anunciava com orgulho 2.500 horas de vida útil e os fabricantes destacavam a longevidade de suas lâmpadas. De modo que em Phoebus pensaram em limitar a vida útil das lâmpadas a 1.000 horas. Em 1925 se criou O "Comitê das 1.000 Horas de Vida" para reduzir tecnicamente a vida útil das lâmpadas. Mais de 80 anos depois, Helmut Hegel, um historiador de Berlim, encontra provas das atividades do comitê, ocultas nos documentos internos dos integrantes do cartel. Empresas como Philips, na Holanda, Osram, na Alemanha, E lâmpadas Teta na Espanha. Aqui temos um documento do cartel. "A vida média das lâmpadas de iluminação geral não deve ser garantida ou oferecida por outro valor que não seja 1.000 horas". Pressionados pelo cartel, os fabricantes realizaram experimentos para criar uma lâmpada mais frágil, para cumprir com a nova norma das 1.000 horas. A fabricação estava rigorosamente controlada para que a norma fosse cumprida. Montaram-se estantes com muitos bocais para lâmpadas nos quais se rosqueavam mostras de cada série produzida. Companhias como Osram registravam meticulosamente a duração dessas lâmpadas. Phoebus criou uma complicada burocracia para impor suas regras: Os fabricantes eram multados severamente caso se desviassem dos objetivos acordados. Aqui temos a tabela de multas de 1929 que mostra quantos francos suíços deviam pagar os membros do cartel se suas lâmpadas durassem, por exemplo, mais de 1.500 horas. A medida em que a Obsolescência programada surtia efeito, a vida útil começou a cair em apenas dois anos, passou de 2.500 horas... a menos de 1.500. Nos anos 40, o cartel já havia conseguido seu objetivo. uma lâmpada comum durava 1.000 horas. Entendo que isto fosse tentador em 1932. Na época, a sustentabilidade era menos importante porque não viam que o planeta tivesse recursos finitos. Viam-no dentro uma perspectiva de abundância. Ironicamente, a lâmpada, que sempre foi um símbolo de ideias e de inovação, é um dos primeiros exemplos de obsolescência programada. Nas décadas seguintes, foram patenteadas dezenas de novas lâmpadas, inclusive uma que durava 100.000 horas. Porém, nenhuma chegou a ser comercializada. Oficialmente, Phoebus nunca existiu, porém, seu rastro nunca desapareceu. Sua estratégia era ir mudando de nome. Se chamou "Cartel Internacional de Eletricidade", E depois tornaram a mudá-lo. O importante é que essa ideia, como instituição, continua existindo. Em Barcelona, Marcos ignorou o conselho dos vendedores de trocar a impressora. Está decidido a consertá-la, e encontrou alguém na internet que descobriu o que acontece com sua impressora. O segredo sujo das impressoras a jato de tinta. Tentei imprimir e dizia "algumas peças devem ser trocadas". Decidi consertá-la eu mesmo. Olá, Marcos, recebi sua mensagem. Marcos entrou em contato com o autor do vídeo. Há uma esponja no fundo da impressora onde se acumula a tinta descartada. As impressoras limpam constantemente os bicos jorrando jatos de tinta que caem sobre a esponja. depois de um número prefixado de jatos, a impressora decide que está cheia e deixa de funcionar. Justificam que não querem manchar a sua mesa de tinta. Porém, o problema real é que as desenham para que deixem de funcionar. A obsolescência Programada surgiu ao mesmo tempo que a produção em massa, e a sociedade de consumo. O problema dos produtos feitos para durarem menos é um padrão que começou com a revolução industrial. Das novas máquinas saíam mercadorias muito mais baratas e isso era fantástico para os consumidores. Porém, havia tanta produção que as pessoas já não podiam seguir o ritmo das máquinas. Em 1928, uma influente revista de publicidade advertia: "um artigo que não se desgasta é uma tragédia para os negócios"! De fato, com a produção em massa, baixaram os preços, e os produtos ficaram mais acessíveis. As pessoas começaram a comprar mais por diversão que por necessidade. A economia acelerou! Em 1929, a crise de Wall Street freiou drasticamente o consumo e levou os EUA a uma recessão económica. A parada alcançou proporções apavorantes. Em 1933, o desemprego chegou a 25 por cento. As filas já não eram para comprar, mas para pedir trabalho e comida. De Nova lorque, chegou uma proposta radical para reativar a economia. Bernard London, um proeminente investidor imobiliário, sugeriu sair da depressão tornando obrigatória a obsolescência programada. Era a primeira vez que o conceito aparecia por escrito. London pleiteava que todos os produtos tivessem uma vida limitada, com uma data de validade, depois da qual seriam considerados legalmente "mortos". Os consumidores os devolveriam a uma agência do governo para serem destruídos. Tentava-se equilibrar capital e trabalho. Assim, sempre haveria mercado para novos produtos, sempre faria falta mão de obra e o capital teria recompensa. Bernard London acreditava que com a obsolescência programada obrigatória as fábricas continuariam produzindo as pessoas continuariam consumindo e haveria trabalho para todos. Giles Slade está em Nova lorque para saber mais sobre a pessoa que há por trás da ideia. Pergunta se com a obsolescência, Bernard London pretendia maximizar os benefícios, ou melhor, ajudar aos desempregados. Dorothea Veitner conheceu Bernard London nos anos 30, durante uma excursão familiar. Não me diga quem é. Que interessante! Sem dúvida parece um intelectual. Você o conheceu em 1933... Quando eu tinha 16 ou 17 anos meus pais tinham um enorme Cadilac, tão grande quanto um zepelim. Minha mãe dirigia, meu pai ia a seu lado e os London iam no assento de trás. Meu pai pediu ao Sr. London que me explicasse sua filosofia. E este homem tão interessante me contou sua ideia para reduzir a Depressão. A economia era um desastre pior que agora. Estava obcecado com essa ideia, igual que um artista com suas pinturas. Sussurrou-me no ouvido, como se temesse que fosse uma ideia radical demais. De fato, a ideia de Bernard London não obteve interesse e a obsolescência obrigatória nunca foi posta em prática. 20 anos depois, nos anos 50, a obsolescência programada ressurgiu, porém, com uma mudança crucial: já não se tratava de obrigar o consumidor... senão de servi-lo. obsolescência programada: o desejo do consumidor de possuir algo um pouco mais novo, um pouco melhor, um pouco antes do necessário. esta é a voz de Brook Stevens, apóstolo da obsolescência programada na América do pós-guerra... este elegante designer industrial criou de eletrodomésticos, até carros e trens, contando sempre com a obsolescência programada. em sintonia com a época, os desenhos de Brook Stevens transmitiam velocidade e modernidade. Até sua casa era incomum. Meu pai desenhou esta casa, na qual me criei. Durante sua construção, todos acreditavam que seria uma estação de ónibus porque não parecia uma casa tradicional. Para meu pai, o mais importante ao desenhar um produto era que tivesse caráter. Odiava os produtos insossos, que não provocavam no consumidor nenhum desejo que Ihe impulsionasse a comprar. O antigo enfoque europeu era criar o melhor produto e que durasse para sempre. Comprava-se uma boa roupa para levá-la desde seu casamento até seu enterro sem poder renová-la. O enfoque americano é criar o consumidor insatisfeito com o produto que já tenha desfrutado, para que o venda de segunda-mão e para que compre o mais novo com a imagem mais nova. Brook Stevens viajou por todo EUA promovendo a obsolescência programada em suas palestras e discursos. Suas ideias se desenvolveram e ecoaram amplamente. As pessoas estão prestando mais atenção nas aparências das coisas. Prestam atenção a todo o novo, bonito e moderno. O design e o marketing seduziam ao consumidor para que desejasse sempre o último modelo. Meu pai nunca desenhou um produto para que falhasse intencionalmente ou se tornasse funcionalmente obsoleto em pouco tempo. A obsolescência programada depende do consumidor. Ninguém o obriga a ir a uma loja e comprar um produto. Vão por sua própria vontade, é sua escolha. Liberdade e felicidade através do consumo ilimitado O estilo de vida dos americanos dos anos 50 assentou as bases da sociedade de consumo atual. Sem a obsolescência programada estes lugares não existiriam. Não haveria produtos, não haveria industria, não haveria designers, arquitetos, serventes, faxineiros, agentes de segurança, todos os trabalhos desapareceriam. Cada quanto tempo vocês trocam de celular? - Cada 18 meses. - Uma vez por ano. Hoje em dia, a obsolescência programada é ensinada nas escolas de designers e engenharia. Boris Skinov dá aulas sobre ciclos de vida do produto: eufemismo moderno para "obsolescência programada". Fui às compras. Comprei algumas coisas: uma frigideira, sal, uma camisa, outra camisa... Ensina aos estudantes a desenharem para um mundo empresarial dominado por um único objetivo: compras frequentes e repetidas. Quero que me digam o quanto vocês acreditam que durarão, qual será sua vida útil. Os designers devem entender para que empresa trabalham. Com seu modelo de negócio, a empresa determina a frequência de renovação de seus produtos. Os designers recebem essa informação e devem desenhar o produto para que se encaixe perfeitamente Com a estratégia de negócio do cliente. A obsolescência programada está na raiz do considerável crescimento económico que o mundo ocidental viveu a partir dos anos 50. Desde então, o crescimento tem sido o "Santo Graal" de nossa economia. Vivemos em uma sociedade de crescimento cuja lógica não é crescer para satisfazer às necessidades, senão crescer por crescer. Crescer infinitamente, com uma produção sem limites. E, para justificá-lo, o consumo deve crescer sem limites. Serge Latouche, um destacado crítico da sociedade de crescimento, escreve frequentemente sobre seus mecanismos. Há três instrumentos fundamentais: a publicidade, a obsolescência programada e o crédito. Na última geração, nosso papel se limita a pedir empréstimos para comprar coisas que não necessitamos. Não tem sentido. Os críticos da sociedade de crescimento alertam que não é sustentável a longo prazo porque se fundamenta numa contradição flagrante. Quem acredita que um crescimento ilimitado é compatível com um planeta limitado ou está louco ou é economista. O drama é que agora todos somos economistas. Cria-se um produto novo a cada 3 minutos. Isso é necessário? Muita gente se dá conta de que as coisas têm que mudar quando os políticos dizem que ir às compras e consumir é a melhor medida para reativar a economia. Poderíamos dizer que, com a sociedade de crescimento, estamos montados em um bólido que, claramente, ninguém mais pilota, que vai à toda velocidade, e cujo destino é chocar contra um muro ou cair por um precipício. Consultando manuais de instrução, Marcos se dá conta de que os engenheiros determinam a vida útil de muitas impressoras ao desenhá-las. Conseguem-no colocando um chip dentro da impressora. Encontrei o chip. É um chip EEPROM onde se guarda um contador de impressões. Quando se chega a um número determinado, a impressora se bloqueia, e deixa de imprimir. Que acham os engenheiros quando têm que desenhar um produto para que se quebre? O dilema é refletido num clássico do cinema britânico, de 1951, onde um jovem químico inventa um fio que não se desgasta nunca. O químico crê que conseguiu um grande progresso Porém, nem todos gostam do invento. E em pouco tempo é perseguido não só pelos donos das fábricas, mas também pelos operários, que temem ficar sem seus empregos. É muito interessante, e me lembra algo que ocorreu na indústria têxtil. Em 1940, o gigante químico Dupont apresentou uma fibra sintética revolucionária: o Nylon! Para as mulheres, as meias duradouras eram um grande progresso. Mas, a alegria durou pouco. Meu pai trabalhou na Dupont antes e depois da guerra, na divisão do nylon e me contou que quando o nylon apareceu e o provavam para fazer meias, os trabalhadores de sua seção levavam meias para casa para que suas mulheres e namoradas as provassem. Meu pai as levou para minha mãe, e as primeiras Ihe encantaram porque eram muito resistentes. Os químicos da Dupont tinham motivos para estarem orgulhosos. Inclusive os homens admiravam a resistência das meias de nylon. O problema é que duravam demais, As mulheres estavam muito contentes porque não desfiavam, mas isso significava que os fabricantes não iam vender muitas meias. Dupont deu novas instruções ao pai de Nicols Fox e seus colegas. Os homens de sua seção tiveram que começar do zero para criar fibras mais fracas e chegar a algo mais frágil, que se rompesse, e assim as meias não durariam tanto. Os mesmos químicos que aplicaram todo seu saber para criar um nylon duradouro, seguiram a corrente da época e o fizeram mais frágil. Esse fio eterno desapareceu das fábricas, tal como no cinema. Queremos o controle total desta descoberta. Se quiser, pagaremos o dobro desse contrato. um quarto de milhão... - Para acabar com ele? - Sim. O que os químicos da Dupont achavam em reduzir a vida de um produto deliberadamente? Deve ter sido frustrante para os engenheiros terem que usar seus conhecimentos para criar um produto inferior depois de tanto esforço para fazer um bom produto. Mas suponho que essa é uma visão de fora. Eles só faziam seu trabalho. Fazê-lo mais forte ou mais frágil, esse era seu trabalho. Eticamente eram tempos complicados para os engenheiros. este enfrentamento Ihes fez examinar seus conceitos éticos mais fundamentais. A velha escola acreditava que deviam fazer produtos duradouros que nunca se quebrassem. Os da nova escola, motivados pelo mercado, queriam fazer produtos tão descartáveis quanto possível. O debate se resolveu quando a nova escola ganhou a partida. A obsolescência programa não afetou só os engenheiros, a frustração dos consumidores fez eco no clássico teatral de Arthur Miller, "A morte do caixeiro viajante". Como Willie Lomax, os consumidores só poderiam se queixar. Gostaria de algo que fosse meu antes de quebrar! É uma luta contínua contra a corrente! Acabo de pagar o carro e já está nas últimas. A geladeira gasta correias como uma louca. Está calculado! Termina-se de pagar algo e já não serve. Os consumidores não sabiam que do outro lado da "Cortina de Ferro" nos países do bloco do leste havia uma economia inteira sem obsolescência programada. A economia comunista não se baseava no livre mercado, mas estava planificada pelo estado. Era pouco eficiente, e sofria uma falta de recursos crónica. Nesse sistema, a obsolescência programada não tinha nenhum sentido. Na antiga Alemanha Oriental, a economia comunista mais eficiente, as normas diziam que as geladeiras e lavadoras deveriam funcionar durante vinte e cinco anos. Comprei esta geladeira na Alemanha Oriental em 1985, tem pelo menos 24 anos. Nunca tive que mudar a lâmpada, tem quase 25 anos. Em 1981, uma fábrica de Berlim Oriental começou a produzir uma lâmpada de longa duração. Apresentaram-na numa feira internacional, em busca de compradores ocidentais. Quando os fabricantes da Alemanha Oriental apresentaram estas lâmpadas de longa duração na feira de Hanover de 1981, seus colegas do Ocidente disseram: "Vocês ficarão sem trabalho". Os engenheiros da Alemanha Oriental disseram: "Não, pelo contrário. Conservaremos nossos trabalhos se economizarmos recursos e não desperdiçarmos tungstênio. " Os ocidentais repeliram a lâmpada. Em 1989, caiu o muro de Berlim. A fábrica fechou, e a lâmpada de longa duração não foi mais fabricada. Agora só pode ser vista em exposições e museus. 20 anos depois da queda do muro de Berlim, o consumismo desenfreado está tanto no leste quanto no oeste. Com uma diferença: na era da internet, os consumidores estão dispostos a lutar contra a obsolescência programada. Nosso primeiro trabalho com êxito foi um curta sobre o iPod. Estava completamente duro e comprei um iPod que valia uns 400 ou 500 dólares. Uns 8 ou 12 meses depois a bateria "morreu". Chamei a Apple para Ihes pedir que trocassem a bateria e sua política de então era dizer aos clientes que comprassem outro iPod. - Melhor comprar um novo. - Apple não oferece... - Não. - Apple não oferece uma bateria para troca? - Não. O chato não foi que a bateria morresse. Se acontece com meu celular Nokia, compro uma bateria nova. Inclusive quanto a meu iPhone posso trocar a bateria. Mas o iPod, tão caro, ao terminar a bateria, tem que trocar o aparelho inteiro. Meu irmão teve uma ideia de fazer um curta sobre isso. Íamos com um estêncil e um spray pintando sobre os anúncios do iPod que víamos. "A bateria não substituível do iPod dura apenas 18 meses. " Disponibilizamos o vídeo em nosso site, www. ipodsdirtysecret. com No primeiro mês teve cinco ou seis milhões de visitas e o site ficou louco. Uma advogada de São Francisco, Elizabeth Pritzkar, ouviu falar do vídeo, e resolveu processar a Apple em razão da bateria do iPod. Meio século depois do caso do Cartel, a obsolescência programada chegava de novo aos tribunais. Ao começar este litígio, o iPod estava a dois anos no mercado, e a Apple havia vendido três milhões de iPods nos EUA. Boa parte desses iPods tinham problemas com a bateria, e seus proprietários estavam dispostos a irem aos tribunais. Um deles era Andrew Westley. Dentre os consumidores que nos chamaram escolhemos representantes para uma demanda coletiva. Uma demanda coletiva é um mecanismo particular dos Estados Unidos. Um pequeno grupo de pessoas representa a um grupo maior para apresentar uma demanda ante um tribunal. Meu papel nesse caso foi representar milhares, talvez dezenas de milhares de pessoas. O caso ficou conhecido como "Westley contra Apple". Quando meus amigos ouviram que era um caso importante acreditaram que eu estava radicalizando. Eu era outro Erin Brockovich. Em dezembro de 2003, Elizabeth Pritzker apresentou a demanda perante o Tribunal do Condado de San Mateo, próximo à sede central da Apple. Pedimos a Apple diversos documentos técnicos relativos à vida útil da bateria do iPod e recebemos muitos dados técnicos sobre o processo de desenho e de testes da bateria. E assim descobrimos que a bateria de lítio do iPod foi desenhada, desde o princípio, para ter uma vida curta. A premissa no desenvolvimento do iPod foi a obsolescência programada. Depois de meses de tensão, as duas partes chegaram a um acordo. A Apple criou um serviço de troca de baterias, e prolongou a garantia para dois anos. Os querelantes receberam uma compensação. Algo que me chateia pessoalmente é que a Apple se apresenta como uma empresa moderna, jovem e avançada. Que uma empresa assim não tenha uma política ambiental que permita ao consumidor devolver os produtos para reciclagem e eliminação é contraintuitivo e vai contra sua mensagem. A obsolescência programada provoca um fluxo constante de resíduos que acabam em países do terceiro mundo, como Gana, na África. Faz oito ou nove anos me dei conta de que chegavam a Gana muitos containers com resíduos eletrónicos. Falamos de computadores e televisores estragados que ninguém quer nos países desenvolvidos. Um tratado internacional proíbe enviar resíduos eletrónicos ao terceiro mundo Porém, os comerciantes usam um truque simples: Declará-los produtos de segunda-mão. Mais de 80% dos resíduos eletrónicos que chegam a Gana não podem ser consertados, e acabam abandonados em lixões por todo o país. Estamos no lixão de Agbogbloshie. Aqui havia um rio maravilhoso, o Odaw, que serpenteava por esta área. Transbordava de vida, havia muitos peixes. eu ia à escola próximo daqui, vínhamos brincar de futebol e passar um tempo. Os pescadores organizavam passeios em barco. Agora, tudo desapareceu. E isso me faz sentir muito triste e irritado. Hoje em dia, aqui não há crianças brincando depois das aulas Em seu lugar, jovens de famílias pobres vem buscar sucata. Queimam o isolamento plástico dos cabos para obter o metal que têm dentro. As crianças menores revolvem os restos para encontrar qualquer pedaço de metal que os maiores tenham esquecido. Os que estão por trás das remessas dizem: "queremos acabar com o abismo digital entre Europa e América e o resto da África e Gana. " Porém os microcomputadores que nos mandam não funcionam. Não tem sentido receber resíduos se não pode tratá-los, menos ainda se não são seus e seu país se converte no depósito de lixo do mundo. O lixo escondido durante tanto tempo na era industrial está chegando a nossas vidas e já não podemos evitá-lo. A economia do desperdício está chegando a seu fim porque já não existem lugares onde depositar os resíduos. Com o passar do tempo começamos a perceber de que o planeta não pode sustentar isto para sempre. os recursos naturais e energéticos dos quais dispomos são limitados. A posteridade não nos perdoará nunca. Descobrirão o estilo de vida desperdiçador dos países desenvolvidos. Pessoas de todo o mundo já começaram a atuar contra a obsolescência programada. Mike Anane luta do final da cadeia. Começou recolhendo informação. Aqui guardo os resíduos que levam etiquetas identificadoras. Aqui diz Centro AMU, em Sjaelland, Dinamarca. Isto vem da Alemanha, enviaram-no para cá para jogar fora. Universidade de Westminster, Apple é uma empresa que alardeia ser ecologista porém muitos produtos Apple acabam jogados aqui. Tenho uma base de dados com as etiquetas e os contatos das empresas às quais pertenciam os resíduos que foram jogados em Gana. Mike pensa converter esta informação em provas para uma denúncia ante um tribunal. Devemos passar à ação com medidas punitivas, processar as pessoas para que não cheguem mais resíduos em Gana. Marcos está na internet de novo buscando como alongar a vida de sua impressora. Um site da Rússia parece oferecer um software gratuito para impressoras com um chip contador O programador teve a paciência de explicar sua motivação pessoal. Isto ocorre por uma má construção Esse é seu modelo de negócio. É ruim para o usuário e para o meio-ambiente. assim que encontrei a maneira de criar um software que permite resetar o chip contador. Marcos não sabe o que pode acontecer mas, de qualquer jeito, decide baixar o software. De um pequeno povoado na França, John Thackara luta contra a obsolescência programada ajudando pessoas de todo o mundo a compartilhar ideias de negócio e de design. Nos países mais pobres, sempre se consertam as coisas. A ideia de jogar um produto só porque se quebra é impensável para alguém do Sul. Na Índia tem uma palavra, "jugaad", para descrever esta tradição de consertar as coisas, sem ter em conta a complexidade. Tentamos encontrar pessoas com projetos concretos, que não só faça afirmações abstratas sobre o mal que existe ou o que deve mudar. Um deles é Warner Philips, descendente da dinastia dos fabricantes de lâmpadas. Lembro-me que meu avó me levou a uma fábrica da Philips para que visse como se fabricavam lâmpadas, que era muito, muito legal. Quase um século depois do Cartel da Lâmpada, Warner Philips segue a tradição familiar, porém com uma perspectiva diferente: fabrica uma lâmpada led que dura 25 anos. Não há um mundo ecológico e um mundo de negócios. Negócio e sustentabilidade são um conjunto. De fato, é a melhor base para um negócio. E a única forma de consegui-lo é considerar o custo real dos recursos utilizados. E considerar também o consumo de energia, incluído o consumo indireto do transporte. Se os transportadores pagassem o custo real do transporte, sem mencionar que o petróleo é um recurso não renovável e para o qual não há substituto, os custos se multiplicariam por 20 ou por 30. Se se considerar tudo isso em cada produto fabricado, os empresários de todo o mundo teriam poderosos incentivos para fazer produtos que durassem para sempre. Também se pode lutar contra a obsolescência programada reformulando a engenharia e a produção. Um conceito novo, "do berço ao berço", afirma que se as fábricas funcionassem como a natureza a própria obsolescência ficaria obsoleta. Quando falamos de proteger o meio ambiente, sempre pensamos em cortar, renunciar, reduzir. Porém na primavera a natureza, uma cerejeira nem corta, nem renuncia. O ciclo natural produz em abundância, mas flores caídas e as folhas secas não são resíduos mas nutrientes para outros organismos. A natureza não produz resíduos, só nutrientes. Baumgart crê que a indústria pode imitar o ciclo virtuoso da natureza e o demonstrou ao redesenhar o processo de produção de uma fábrica têxtil suíça. Quando reveste um sofá com um tecido como este os recortes são tão tóxicos que devem ser eliminados com os resíduos tóxicos. Baumgart descobriu que a fábrica usava por inércia centenas de tintas e produtos químicos altamente tóxicos. Para fabricar os novos tecidos, Baumgart e sua equipe reduziram a lista a apenas 36 substâncias, todas biodegradáveis. Selecionamos ingredientes que se poderia comer. Se quisesse, poderia adicioná-los em seu muesli. Numa sociedade de desperdício, um produto de vida curta cria um problema de resíduos. Se uma sociedade produz nutrientes, os produtos de vida curta se convertem em algo novo. Para os críticos mais radicais da obsolescência programada, não basta reformular os processos produtivos: querem reformular nossa economia e nossos valores. é uma verdadeira revolução, uma revolução cultural, porque é uma mudança de paradigma e mentalidade. Esta revolução se chama "decrescimento". Serge Latouche viaja de palestra em palestra, Explicando como abandonar a sociedade de crescimento definitivamente. O decrescimento é um slogan provocador que tenta romper com o discurso eufórico do crescimento viável, infinito e sustentável. Tenta demonstrar a necessidade de uma mudança de lógica. A essência do decrescimento pode ser resumida em uma palavra: reduzir. Reduzir nosso rastro ecológico, o desperdício, a superprodução e o superconsumo. Ao reduzir o consumo e a produção, podemos liberar tempo para desenvolver outras formas de riqueza que têm a vantagem de não se esgotarem ao serem usadas, como a amizade ou o conhecimento. Cada vez mais dependemos de objetos para nossa identidade e autoestima. Isso é consequência da crise daquilo que costumava nos dar identidade, como a relação com a comunidade ou a terra. Ou aquelas coisas singelas substituídas pelo consumismo. Se a felicidade dependesse do nível de consumo, deveríamos ser absolutamente felizes, porque consumimos 26 vezes mais que nos tempos de Marx. Mas as pesquisas demonstram que as pessoas não são 20 vezes mais felizes, porque a felicidade é sempre subjetiva. Os críticos do decrescimento temem que destruirá a economia e nos levará de volta à Idade da Pedra. Voltar a uma sociedade sustentável, cuja marca ecológica não seja maior que um planeta, não significa voltar à Idade da Pedra, senão voltar, considerando os parâmetros de um país como a França, aos anos 60, que não é a Idade da Pedra. A sociedade do decrescimento torna realidade a visão de Gandhi: Que disse: "O mundo é suficientemente grande para satisfazer as necessidades de todos porém sempre será demasiado pequeno para a avareza de alguns". Marcos está instalando o freeware russo em seu computador. Com o novo programa, pode zerar o chip contador da impressora. A impressora se desbloqueia imediatamente.