Gosto de dizer que o dinheiro é uma história. E uma história no sentido específico que é um sistema de interpretação, é um sistema de significados que determina funções para as pessoas, e concentra a atenção humana e coordena a atividade humana. Então, por exemplo, vamos dizer que você é muito rico e queira construir um grande edifício. Como você faz com que todas essas pessoas... primeiro, você tem que dizer, contar a história que um grande edifício será construído aqui. E como você faz com que as pessoas entreguem o cimento num determinado momento? Sabe? Como fazer com que todos os arquitetos, e todos os engenheiros, e todos os operários, concordem para devotar suas energias de vida para esse projeto? Você usa dinheiro pra fazer isso. E outros símbolos também. Horários, e coisas assim. Mas o dinheiro é o que consegue a atenção de todos para se focar nesse projeto. Então, sim, o dinheiro é uma história. E também é um acordo: usar algo como meio de troca. Há níveis sobre níveis nisso. E o nível que eu venho falando mais, é que vivemos numa sociedade monetarizada onde mesmo considerando uma geração atrás, haviam várias funções para as quais não usávamos dinheiro. Por exemplo, cuidar das crianças. Os vizinhos olhavam os filhos uns dos outros. O preparo de refeições... a maior parte dos alimentos era preparada e comida em casa. E essas coisas foram convertidas em "serviços". E nós convertemos; e se voltarmos 100 anos as pessoas não pagavam por entretenimento. Elas cantavam músicas elas mesmas. Hoje elas não cantam mais tanto assim. As pessoas não pagavam por aventuras. Hoje, as crianças têm esse tipo de "aventuras falsas". Quando brincam de jogos de Pokemon e jogos de aventura online. As crianças tinham aventuras reais, que não eram algo que você tinha que comprar. Então nós convertemos todos esses relacionamentos e funções humanas em serviços, e convertemos cada vez mais a natureza em bens. E eu acho que a crise hoje parece vir do fato que parece que não sobrou nada pra converter na dimensão de bens e serviços. Toda vez que algo é convertido em bens e serviços o PIB cresce, a economia cresce. O que é necessário no sistema financeiro que temos hoje, baseado em juros. Sabe, dinheiro sendo gerado e submetido a juros e mais dinheiro é necessário para pagar de volta. Por isso a quantidade de dinheiro não pára de crescer. E a quantidade de bens e serviços que são trocados por dinheiro também ficam sob pressão de crescer. E... por quanto tempo isso pode durar? Quantos peixes mais podemos converter em pescaria? E quantas mais florestas podem ser convertidas em metros cúbicos? E quantos relacionamentos mais podemos converter em serviços? Não há quase mais nada sobrando, pagamos por quase tudo. E penso que, num nível realmente profundo, essa crise é sobre isso. E é por isso que a solução com a qual todos sabemos concordar, sabe, "bem, vamos fazer a economia crescer mais um pouco"... não pode mais funcionar. E essa é uma crise que vai além do excesso de dívida e outras coisas que as pessoas estão falando. Algumas pessoas estão falando da necessidade de crescimento zero, ou uma economia de crescimento negativo. mas isso acaba soando como veneno político, sabe? Mas, na verdade, vamos dizer que você e eu temos filhos, e mandamos eles para uma creche. E então, eu digo "Ei, vamos ter uma cooperativa de cuidados de crianças!" Conseguimos alguns amigos e tomamos contas das crianças uns dos outros. E não vamos mais pagar por isso. E então começamos a cozinhar comida uns pros outros, e não comemos mais em restaurantes. E começamos a dar carona uns pros outros e aí não pagamos por táxis. O PIB iria pra baixo. A economia iria pra baixo. E, de acordo com a lógica dos economistas, estaríamos muito pior. Mas acho que muitas pessoas, hoje, estão usando muito menos recursos naturais, usando, sendo, hã... conservando! Novamente: quando você consome menos óleo, e compra menos óleo.. e o conserva, o PIB vai pra baixo. Então muitas pessoas estão percebendo... Elas estão começando a questionar o crescimento econômico. Mas essa é parte de uma história muito mais profunda, que eu chamo de "História da Ascenção". Que a humanidade, lá atrás, de quando estávamos vivendo à mercê da natureza, e graças à tecnologia e à ciência, nós nos tornamos capazes de controlar as forças naturais. E a dominar o mundo natural. E fazer a natureza "nossa". A domesticar o selvagem. E o passo final nessa ascenção será talvez com nanotecnologia, engenharia genética, será o controle completo da natureza, e transcender os limites da natureza. E viver pra sempre e curar todas as doenças. Mas, sabe, todas esses sonhos tecno-utópicos... e parte desse sonho é que nós vamos crescer pra sempre, que a dimensão humana vai crescer pra sempre. Então, o sistema financeiro que temos hoje que na verdade obriga um crescimento exponencial infinito, é parte dessa história maior. E essa história maior está chegando a um fim também. Assim como nossos esforços para controlar e dominar a natureza não estão mais pagando os dividendos que pagavam antes. Sabe, no meio do século XX, estávamos dizendo que iríamos eliminar todas as doenças. Cientistas estavam testemunhando no Congresso, sabe? "Até o ano 2000, não haverá mais doenças" "e não haverão mais insetos." "Nós teremos conquistados os insetos" "com químicos milagrosos como o DDT," "e não haverão mais insetos." Então, esse tipo de pensamento era totalmente normal. Todos sabiam em 1950 que teríamos colônias espaciais e teríamos longevidade ilimitada no ano 2000. E hoje, isso, o futuro, ainda não chegou. E nunca vai chegar. E não só isso, mas não temos certeza se deveria chegar... ou se nós queremos que ele chegue. Então todas essas camadas de histórias sobre histórias estão chegando ao fim. Incluindo a história do dinheiro como parte da história da ascensão, e parte de uma outra história do Eu, do Eu separado, competindo contra outros Eus separados num universo objetivo. Essa é outra história que está chegando ao fim. E novas histórias estão surgindo para substitui-las. E por isso estou entusiasmado a respeito das moedas alternativas, ou complementares que estão aparecendo por aí. Porque pra mim isso é parte de uma nova história do dinheiro. E, mais abrangentemente, uma nova história das pessoas, uma nova história do Eu. Uma nova história do mundo. Eu conto a história de um mundo mais bonito em todas as suas dimensões. E parte dessa história, eu digo, de maneira suscinta, é a história do ser conectado, vivendo em parceria co-criativa com a Amada Terra. E não mais "Mãe Terra". E isso requer uma explicação, quer que eu faça isso? Sim, ok, então... nós tivemos esse período de crescimento como espécie humana do qual o sistema de dinheiro que conhecemos faz parte. E então crescemos e crescemos e crescemos. E tomamos e tomamos e tomamos, do planeta, da mesma maneira que uma criança recebe dos pais. E agora, eu sou um pai. E eu jamais quero que meus filhos se preocupem se estão recebendo demais. Esse não é o trabalho deles. A função deles é receber. E eles não têm que pensar: "Será que estou comendo demais?" "Será que papai está tendo dificuldades em me dar toda essa comida?" Não quero que pensem isso. Quero que comam de acordo com suas necessidades. E essa tem sido nossa relação com a Mãe Terra. Nós temos este sentimento de "ter direito", que todo mundo anda desprezando agora, mas talvez tenha sido correto e apropriado durante a infância da humanidade. Então o que acho que está acontecendo agora é que a humanidade está entrando na idade adulta. E as crises que estão convergindo em nossa época... não só a crise financeira ou econômica, mas a da energia, da saúde, a ecológica, solo, água etc Essas são a provação da mudança de idade que temos que atravessar para entrar no estado de vida adulta. E quando você entra, você entra nesse estágio onde o crescimento físico pára. Seu relacionamento com o outro, seus relacionamentos de amor... eles mudam. Você ainda ama seus pais, mas algo novo acontece: você se apaixona. E o relacionamento entre os amantes é diferente. É diferente de um relacionamento com os pais. Você não deseja apenas receber e receber e receber. Você também deseja dar. E eu acho que isso é o que falo quando digo "Amada Terra". Bom, isso só vai até certo ponto... digo, de uma maneira, sempre será a Mãe Terra. Mas há esse novo conceito de "Amada Terra" no qual nós desejamos dar de volta para a Terra também. E a segunda parte é que desejamos entrar numa parceria co-criativa porque é outra coisa que acontece com eles.